terça-feira, 27 de outubro de 2015





                                                 CHEGA!


                              Depois do piti e do protesto na semana passada, eu pensei que haveria alguma reação da parte deles, mas nada aconteceu. No "common meeting" quando o assunto foi comida, continuaram o papo do desperdício, e com o papo de que a horta precisa produzir mais, então as pessoas precisam trabalhar mais. Como sempre, jogaram a responsabilidade nos estudantes. Eu passei o tempo todo tentando formular um argumento, em ingles, para convencê-los de que precisam comprar mais comida. Em vão. Teve alguma votação, eu nem me lembro qual foi e eu concordei, porque estava de saco na lua. Aí, quando todos começaram a se levantar, eu consegui. Antes tinha menos gente, então a comida era suficiente. Agora somos mais, é preciso comprar mais comida, mais óleo de cozinha, mais ovos, mais queijo... Mas todos já haviam se levantado. A diretora veio até mim, toda sorridente e disse:
                              - Viu como nós nos preocupamos com a alimentação? Também não gostamos do que aconteceu outro dia!
                               E eu respondi, o que havia acabado de pensar, que agora somos mais pessoas, então é preciso comprar mais comida!  Ela fez cara de espanto! E eu me espantei com a cara de pau dela! Afinal o que eu estava dizendo é o óbvio: mais gente, mais comida.
                                - Voce tem uma opinião diferente!
                                - É. Eu tenho.
                                - E por que voce não disse isso na reunião?
                                - Eu vou dizer na próxima, se as coisas não melhorarem até lá.

                                                                   ***

                                No fim de semana, Nadhia e  as colombianas foram à festa, em Chatobelair, novamente. Nadhia nem dormiu na RVA e as outras voltaram depois das tres horas da manhã. Foi o estopim. Na segunda feira, logo cedo, fomos chamadas para um "meeting". O professor explicou que era sobre o fim de semana e perguntou se eu queria ir. Eu disse que não. Fiquei tranquila, porque, desta vez, eu não tinha nada com isso, porque elas haviam avisado o professor que iam sair. Não ia ser novamente submetida àquela espécie de lavagem cerebral, porque não disse onde meus colegas estavam...
                                 A reunião se alongou teve um intervalo, pra tomarem água, recomeçou, foi até a hora do almoço, e ia continuar depois. As pessoas com caras horríveis.
                                 Depois do almoço, eu estava no meio da minha soneca, quando o professor bate na porta do meu quarto e diz que eu devo comparecer à reunião. Ai meu saco!
                                 Eu vou. Grande parte da lavagem cerebral já está feita. As colombianas e a Nadhia já concordaram com eles,e estavam novamente falando que não entendiam direito o que estava acontecendo porque não entendiam inglês. Ele, como sempre, disseram que a culpa era nossa, porque  falamos espanhol e  português, entre nós e assim não vamos aprender nunca. Eu expliquei mais uma vez  que meu problema não é falar. Meu problema é entender! Mas bla,bla,bla e no fim a culpa é nossa, como sempre a culpa é nossa...
                                 Aí foi a minha vez de levar bronca. Disseram que eu não participo, que eu tenho opiniões diferentes e não compartilho, que estamos vivendo em comunidade, então temos que compartilhar tudo. que eu devo interromper a fala de qualquer pessoa que esteja engolindo as palavras, ou pronunciando depressa demais... eu até respirei fundo e disse que iria interromper todas as vezes que não entendesse.
                               Então, uma das colombianas  disse que ela tinha uma vida na Colômbia, faculdade trabalho, família, amigos e muitas vezes ela tinha problemas que não eram daqui... ela nem conseguiu acabar de dizer, quando o vegano interrompeu dizendo que somos um time, uma comunidade, temos que partilhar tudo... Eu disse que ela tinha direito à uma vida privada, mas não adiantou.  Ele insistia em que temos de partilhar todos os sentimentos, e todos os sentimentos tem que ser resolvidos em conjunto, porque assim temos força, assim, somos fortes, que juntos podemos resolver os problemas de cada um... Não sei reproduzir direito as palavras, porque foi dito em inglês e eu posso não ter entendido direito mas, tenho quase certeza de que o sentido era esse. Me deu medo! Isso é lavagem cerebral! Eles são perigosos!
                                 Depois, nem sei como, passamos às soluções para os problemas. Então, a diretora, com ar triunfante, traz o quadro e nos mostra uma grande "squedule"!  Fico olhando aterrorizada. Eles acham que vão colocar todas as minhas idéias dentro desses quadradinhos? E a diretora foi falando triunfante, vamos planejar agora, as nossas próximas seis semanas!                  
                                 - What do you know about a meeting about environment that is happening in Europe now? - ninguem respondeu. Ela arregala os olhos e faz cara de espanto!

                                  - How you don't know?!?!?
                                  - We don't have TV, nor radio, nor newspapers,.. - eu disse.
                                  - You have the internet!
                                  - Very bad internet. In my room, almost nothing!
                                  - But here in the main hall, you have!
                                  - And the signal is not clear!
                                  - But this is a problem of your computer! You are complaning again!

                                  Eu não aguentei mais. Levantei e disse:
                                   - Eu vou embora. Não fiz nada de errado, não tenho que ficar ouvindo tudo isso. Eu vim pra cá pra trabalhar com a população e até agora, o que fizemos?  Plantamos arvores, brincamos com crianças uma unica vez, limpamos praia também uma só vez? Em quatro meses? Dá pra contar nos dedos, as ocasiões em que estive com o povo! Pra mim chega! Eu vou embora.Voces podem ter certeza de que ninguem está mais triste e desapontado do que eu.
                                 E saí da sala. Explosão bem típica da minha pessoa! Mas, cá comigo, bem no fundo fiquei feliz! Ufa que alivio!
                                 Quando acabou a reunião, vieram falar comigo, as colombianas, a Nadhia, o professor venezuelano, gente do outro programa, todos solidários, alguns pedindo pra não ir. Até o professor vegano, mas ele disse que queria"abrir a minha mente" e acabamos brigando novamente.
                                 Isso foi ontem. Eu resolvi dormir, antes de decidir definitivamente.
            
                                                               ***
                                 Hoje, estou escrevendo, para clarear as idéias. E cheguei à conclusão final. Eu vou mesmo. Tinha até vontade de ficar, porque segundo me disseram a "schedule" prevê muito mais trabalho com a população e é isso o que eu queria. Mas eu também me conheço. Não sei se ia aguentar olhar pra cara da diretora e do professor vegano. E se conseguir aguentar seria a custa de muito sacrifício. E iria ficar todo o tempo atormentada, sujeita a explosões a qualquer momento. E eu não quero isso.
                                 Acabei de ter uma boa conversa com o vincentiano encarregado dos gramados, dos pastos e da horta. Ele disse que os diretores tem um segredo. Eu também acho. E eu estive procurando desvendar esse segredo até agora. Não consegui. Ele disse que passa o tempo todo tentando saber o que eles querem.
                                   Está resolvido. Vou agora, tentar mudar minha passagem.

                                   Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                                            Eulina
                               


                                   
                            
                               
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                                                         TREELYMPICS


                    Um finlandes, Mr. Mika Vanhanen, preocupado com o desflorestamento no mundo, inventou uma olimpíada de plantio de árvores. Fundou uma ONG chamada ENO (ENvironement On line), que premia com medalhas de ouro, prata ou bronze, os países que mais plantam ou se envolvem em campanhas visando a plantação de árvores.
                     No ano passado, a RVA percorreu todas as escolas do país, plantando árvores. Houve uma adesão de 99,6%, e St. Vincent ganhou a medalha de ouro. O trabalho todo foi feito por Selly, o vincentiano "faz tudo". Ele registrou todas as escolas para participar, contatou todos os diretores, conseguiu as árvores com o ministro da agricultura, depois foi de escola em escola levando os estudantes da RVA para fazer a apresentação e depois plantar as árvores junto com as crianças de cada escola. Ufa!  Os diretores da RVA só apareceram em duas ou tres escolas, quando havia reportagem, TV, etc. O país ganhou a medalha. Mas quem foi até Helzinqui receber não foi o Ministro representando o país. E também não foi o Selly que fez todo o trabalho. Foi diretora da RVA, que apareceu nas fotos e estufa o peito para falar sobre a Treelympics. O certificado e a medalha estão dependurados na parede do salão.
                       Neste ano, não está sendo diferente. Selly faz tudo e nós subimos na pick up, carregando a tralha toda e vamos de escola em escola plantar as trees. Selly fala com os diretores, nós damos a aulinha e depois vamos plantar com as crianças. Os diretores da RVA só apareceram quando houve representantes dos ministros da agricultura, da educação e/ou TV. Nesse dia, eu dei a aulinha e fui filmada. Gostaria de ter visto o programa, mas aqui não tem TV.
                        Parece tudo muito bonito, muito ecológico. E é. Plantar é bom, as crianças são interessadas, participam com o maior entusiasmo, os diretores e professores das escolas sempre nos recebem bem, nós temos a oportunidade de ver como é o ensino no país... Mas, (tudo tem seu mas), este país é uma floresta, as cidades são pequenas e todas ficam nas praias, ou em clareiras no meio da floresta! Pra que plantar mais árvores? Não seria mais útil uma campanha para ensinar a preservar as árvores?
                        Nas ilhas granadinas faz sentido, porque o solo não é tão fértil e eles não tem árvores frutíferas. Mas aqui, na ilha de São Vicente, em qualquer direção que a gente olhe a gente vê mangueiras, abacateiros, caramboleiras, goiabeiras, fruta pão... e nós estamos plantando mais!
                        Sei lá... está sendo tudo tão sacrificado, tanta trabalheira, tanto sol, canseira... será que não tinha alguma coisa mais útil pra gente fazer?
                                       
                                                               ***
                        Mas, tudo tem seu lado bom. Estamos conhecendo o outro lado da ilha de São Vicente. É igualmente lindo! Na hora do almoço, paramos em algum restaurante, pedimos a comida e a proibidíssima cerveja, que, com o calor que faz,  desce magnificamente! Depois entramos na pick up e vamos cantando até a próxima escola. Temos uma verba pro almoço. No recibo sempre constam sucos. Nunca ultrapassamos a verba e sempre bebemos suco! Selly é um companheirão!

                                                              ***
                         Algumas escolas são muito pobres. As salas de aula são enormes e comportam todas as séries primárias, usando o quadro negro como divisória. Um barulho infernal. Teve um dia que eu dei a aulinha em tres escolas dessas e minha voz foi sumindo... ninguém percebeu, porque eu tinha que gritar cada vez mais alto, pra voz sair normal... mas cansa muito.
                         As escolas particulares são melhores, mais bem equipadas, cada série tem sua própria classe. Mas em todas, as crianças são sempre bem educadinhas, a gente entra na classe e elas falam:
                         - Good morning, miss! - depois da apresentação, eles dizem:
                         - Thank you miss!
                         Muitas aulas são cantadas, a gente chega nas escolas e ouve a cantoria! Um barato! Numa classe em que fomos, o professor tocava um violão, para acompanhar a cantoria das crianças. Em outra, depois da apresentação, uma aluna foi até a frente e fez um pequeno discurso de agradecimento pra nós. Eu me surpreendi com os olhos cheios de lágrimas e um nó na garganta, muitas vezes...
                          Nunca vi crianças tão limpinhas! Todas tem uniformes! Arrumadíssimos! Meninas de saia pregueada, milhares de trancinhas no cabelo e meninos de gravatinha! Blusas branquíssimas!
Mesmo, no fim do dia, na hora da saída, os uniformes estão impecáveis. As professoras e os professores também tem uniformes. E eles não transpiram! É impressionante, porque nós que estamos com a camiseta da RVA, começamos o dia arrumados, mas a camiseta vai sujando, fica molhada de suor e chega ao final toda amarfanhada. Mas o povo daqui não transpira, e suas roupas permanecem limpas e arrumadas o dia todo!
                           Meus desenhos agradam. As crianças pequenas arregalam os olhos, prestam muita atenção... sempre perguntam quem desenhou? Uma menina veio correndo até o carro, quando já estávamos quase saindo e disse:
                           - Miss, when you came back here, can you draw a cat for me?
                           - Yes! I will draw a cat for you!
                           Essa me deu nó na garganta e  lágrimas nos olhos... Em outra escola, depois da apresentação, as meninas tinham feito um abanico na aula de trabalhos manuais. Uma delas foi até o jardim, onde eu estava aguardando o término da plantio das árvores, e me deu o abanico que ela tinha feito:
                            - Miss, this is for you!  - agradeci. Só não agradeci mais, por causa do nó na garganta.          
                           Dei a aulinha para uma classe de adolescentes, imaginando o tempo todo o que é que eles estavam achando.  A  minha aulinha e meus desenhos são para crianças pequenas. Então eu ficava olhando nos olhos dos adolescentes e vi que eles estavam se divertindo... pensando que "velhota engraçada, essa!"  Me dava vontade de rir, por causa do ridículo da situação... mas dessa vez eu era a professora, não podia rir.  Acho que eles já sabiam tudo o que eu disse, mas  se divertiram... e depois foram todos plantar as árvores!

                                                        DEI PITI

                    A gente sai muito cedo, por volta das seis da manhã, antes do breakfast.  Então temos que preparar sanduiches pra ir comendo no caminho. Teve um dia em que não havia queijo, nem pão suficiente para os sanduiches, então recebemos cinco EC dolares cada um para comer em Kingstown. Comemos no Mercado Municipal de Kingstown.
                    Na vez seguinte, os diretores também foram, porque queriam fazer um filme. Então, as colombianas foram no carro do Selly e Nadhia e eu fomos na pick up com os diretores. Quando chegamos em Kingstown, perguntei pra diretora, que lugar poderiamos comer com nossos cinco dólares, e ela respondjeu com cara de espanto:
                    - Voces não comeram ainda?  É muito mais barato comer em casa! Como voces se organizaram para comer? Voces precisam se organizar pra comer, antes de sair!
                    - Mas não havia comida, antes de sair! - e seguiu-se uma pequena discussão sobre a necessidade de se organizar, até que eu me enfezei e disse:
                    - Quer dizer que não vamos comer? Quem não se organiza não come?
                    Ela viu a minha cara e resolveu parar. Não dava pra estacionar na frente do Mercado Municipal, então ela sugeriu um supermercado que tinha estacionamento e lanchonete. Enfim, paramos lá e pudemos ter o nosso breakfast.
                     Fomos para a prineura escola e a apresentação foi filmada, documentada, havia gente importante. Dessa vez, uma das colombianas deu a aulinha. Quando acabou, os diretores ficaram com o carro do Selly e combinaram de nos encontrar em Kingston, às tres horas. Fomos todas para a pick up, e recomeçamos a visitar as escolas, falar sobre a Treelympics, carregar e plantar as trees, entregar certificados, fotografar, e voltar para a pick up para ir à proxima escola. Solão! Tudo muito quente, cansativo, suado, sacrificado...
                     Enfim, acabamos e voltamos para Kingston. As colombianas foram para o carro do Selly e Nadhia e eu ficamos na pick up com os diretores. Então, esperamos as compras da diretora, as providências das professoras... por aproximadamente uma hora. Enfim, partimos para mais duas horas de viagem. No meio paramos num posto de gasolina e depois num grande supermercado, para a diretora comprar mais coisas. Minha barriga roncando de fome. Mais uma hora no carro, e chegamos na hora da janta. Lavo as mãos e vou direto pra mesa. Quando chego na mesa...
                      - No food! - olho bem em todos os pratos e travessas vazias - No food at all!
                      Fiquei muito, muito brava. Me senti explorada! Trabalhar de graça e ainda não ter comida, ou ter que me organizar pra comer?!?! É demais! Peguei minha bolsa, que estava na frente da diretora e fiz uma retirada teatral, falando bem alto, pra todo mundo ouvir:
                      - No food! - Estava realmente me sentindo explorada, me senti uma escrava!
                      A jordaniana veio até o meu quarto e trouxe a sopa, que ainda não havia tomado! Até agora, quando me lembro, eu rezo pra ela em agradecimento. Eu me sento na mesa do corredor e começo a tomar a sopa. Cheia de pimenta. Mas tomo assim mesmo. Estou com fome. Daí a pouco, o professor venezuelano vem me trazer dois sanduiches de pão com ovo e queijo. Comi tudo.
E ainda fiz um discurso para o professor:
                      - Seven days per week, twenty four hours per day, hard work and no food is slavery!
                      No dia seguinte, não fui plantar trees. Greve de protesto. Aproveitei para descansar. Foi bom. Meus muitos anos de vida agradeceram.

                       Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                             Eulina


PS - EC dolar é Eastern Caribbean dolar. Com EC$2,70, a gente compra U$1,00.












                     

terça-feira, 20 de outubro de 2015





                                                                   ABSURDOS


                       A comida é ruim. Então sobra. Vai pro "pig".   E quando é boa, falta. É lógico, está todo mundo com fome. Mas, estão chegando novos alunos... e a quantidade de comida continua a mesma! Mas a comida ruim continua sobrando.
                       Colocaram esse assunto para ser dicutido num "commom meeting". eu pensei até que enfim, vão providenciar mais comida. Porém, para surpresa de todos, disseram que havia muita sobra, então  a solução seria redistribuir as quantidades, para não sobrar e cada um teria direito somente à uma porção. Por exemplo, um só pedaço de torta, um só ovo cosido. etc.!!!
                       E as pessoas aceitam! Tudo é dito com tantas palavras bonitas, que todos acabam acreditando que para salvar o mundo, vale qualquer sacrifício!
                      Eu fico tão boquiaberta, que nem reclamo! Preciso achar um meio eficiente de protestar!
                                                                 ****

                      A responsável pela cozinha agora é holandesa. Sempre tem barata. No meu dia de auxiliar de cozinha, eu vi uma baratona e corri na direção dela pra matar, quando a holandesa levantou a mão num gesto imperativo e disse:
                      - No! Don't kill it! Don't kill!
                      - Why?!?!?!? - perguntei.
                      - Bacause I don't kill animals!
                      - But I kill!
                      Era tarde demais, eu corri, mas a barata foi mais ligeira. Não consegui matar. Eu me lembrei de que um dia achamos pão roído na cozinha. Então puseram veneno e acharam um rato morto  dias depois. O pão passou a ser guardado na geladeira. Será que a nova "chefa" vai deixar matar ratos?
                                                                           ***

                        No dia em que essa holandesa chegou, eu estava no quarto, as colombianas na mesa do corredor, por volta das oito horas da noite, quando ouvi uma gritaria, saí do quarto correndo pra ver o que era, e vi um rato entrando e saindo de todos os quartos e as colombianas gritando. Quando o ratinho veio até o meu quarto, eu participei da gritaria, ele passou bem perto do meu pé entrou e saiu do meu quarto rapidinho e foi em direção ao outro corredor. O inglês me ensinou o que fazer, e eu fui até o depósito perto da cozinha, peguei uma caixa de papelão, piquei em pedaços do tamanho do vão da minha porta e fechei o vão com papelão, e fui para o terraço.
                        Então, outra gritaria! No corredor vizinho doeu. Corro lá! A gritaria vem da direção d  banheiro.   É Nadhia lívida, em cima da mesa, enrolada numa toalha!
                        - Lina!!!  Um rato!!!  Eu estava no banho... ele caiu do teto, na minha perna!!!
                        Todos em volta dando risada... o ratinho subiu novamente na parede divisória do box e estava lá, aterrorizado, enquanto as colombianas, Nadhia na toalha e eu, estavamos aterrorizadas no corredor, Enquanto isso foram chegando os outros, todos rindo e nós também, menos Nadhia na toalha. que repetia enojada:
                          - Na minha perna, Lina... na minha perna!
                          A holandesa, recém chegada viu o movimento todo e não riu. Olhou pro ratinho, com cara de dó e disse:
                         - Coitadinho, ele está apavorado!
                         - E nós também! - respondi.
                         Nisso chega o inglês, com uma câmera na mão, e começa a fotografar o ratinho! Ai meu Deus, tem louco pra tudo nesse mundo. A holandesa pede pro grego:
                         - Não dá pra voce pegar o ratinho e por no jardim?
                         - Eu não!!!  Eu não quero pegar leptospirose!!!
                         Até que o ratinho, no meio de outra gritaria, conseguiu descer, passou correndo no meio de todo mundo e desapareceu!
                          O inglês começou a mostrar as fotos do rato. E depois a do morcego que ele havia tirado dois dias antes. A holandesa achou lindo!
                          Realmente, tem louco pra tudo nesse mundo!!!

                                                                             ***
                          É proibido comer qualquer coisa que não esteja em cima da mesa. Nos intervalos das refeições sempre há frutas e pão, na mesa. O pão acaba logo e as frutas não matam fome. Então, o jeito é fazer amizade com a cozinheira. Uma delas é brava. Não adianta querer ser amiga. A outra é legal. O grego e as colombianas, conseguiram uma pizza pequena, com a cozinheira legal. Uma das diretoras chegou na cozinha. Eles se esconderam no depósito e de lá, correram para atrás das árvores do quintal e foram, no escuro, pelo pasto, até o quarto do grego, no hotel, comer a pizza...  Pizza proibida é mais gostosa!

                         Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                                 Eulina

                         

















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sexta-feira, 9 de outubro de 2015





                                                     ALGUMAS RESPOSTAS


                       Ontem, fui plantar árvores com um vincentiano "faz tudo" da RVA.  Negro forte e bonito. Não tem cabelo rasta, tem uma voz possante e um sorriso contagiante. Conhece todo mundo, todas as escolas e, mais que faz tudo, ele é uma espécie de relações públicas da RVA. Inteligente, estudou na Dinamarca. Aprendeu a cuidar de pessoas com distúrbios mentais. Além da RVA, ele trabalha para o governo,  na única prisão do país, dando assistência aos presos.
                       Conversamos bastante. Vou tentar reproduzir algumas de suas idéias.
                       O povo de St. Vincent gosta dos estudantes da RVA. Mas não gosta dos diretores e de alguns professores. Acha que eles são egoístas, muito orgulhosos de si mesmos, preocupados apenas em aparecer, ganhar prêmios.E eles trabalham para a ONG (One World Center), não para o povo.
                       Ele devia ser professor, na RVA,  pois tem formação pra isso. Mas eles não querem professores  que tenham idéias próprias. Todos tem que pensar igual. Ele tentou dar algumas sugestões mais não foi bem sucedido. Não o ouviram, ou não deram importância. Acabou sendo uma espécie de ponte entre a RVA e as instituições do país. Foi ele quem fez o contato com todas as escolas para a Treelyimpics. E sempre que precisam fazer algum trabalho com o povo, ele é convocado.
                       Na Dinamarca, ele aprendeu que as pessoas com distúrbios mentais, precisam ficar com a cabeça ocupada, todas as horas do dia, para que não sofram com alucinações. Talvez, seja essa a origem da "schedule". Todas as horas ocupadas.
                       Quando mencionei que me interessava em trabalhar no programa que a ONG desenvolve no Brasil, ele incentivou, mas quando falei que não concordava com os métodos, ele riu e disse que com ele foi a mesma coisa. Ele tentou, mas foi sendo excluído, até ficar exercendo essas funções meio difusas que exerce hoje.
                        - They will push you! - ele disse.
                       Quando mencionei o DMM e as lições pelo computador, ele disse que pensa como eu. Não tem sentido a gente ter que aprender todas as estatísticas que provam que o mundo vai acabar, enquanto estamos num país que não tem infra estrutura sanitária. Seria muito melhor, estudar um projeto de saneamento básico para St. Vincent e a melhor maneira de executá-lo!
                       E quanto à regra de não poder beber nunca, ele também  acha ridículo.
                       Plantamos árvores debaixo de chuva, em cinco escolas. Eu dava a aula sobre a importância das  as árvores e ele cavava os buracos e plantava. Foi um dia muito cansativo, mas muito produtivo.
                      Enfim tive certeza de que meus pensamentos não são delirantes. Mas ainda não estou satisfeita. Vou continuar investigando
                                                                       ***
                        Amanhã, um novo trabalho com o povo. Vamos limpar um rio. Sei lá o que me espera, mas estou curiosa.
                                                                       ***
                         Chegaram os alunos do curso de dezoito meses. Seis meses aqui, depois seis meses em Belize ou no Ecuador, depois mais seis meses aqui. Afe!
                          A chilena e a eslava foram para o Ecuador trabalhar num programa agrícola e a italiana e a húngara, que haviam ido para Belize trabalhar com crianças, terminaram o curso e foram embora.
                         Os novos são: um casal de jordanianos e mais um amigo, também jordaniano. Muito simpáticos. Um gringo da Califórnia, com cara de mexicano. E  uma mexicana, com cara de brasileira.
                          Tem também um casal de holandeses, que estão aqui, fazendo trabalho voluntário por um mês. Ele faz manutenção e ela trabalha com computadores. Eles se aposentaram e queriam mudar de vida.
                          E chegou também uma moça grandona, aquela que a perna não cabia no carro, que veio de Michigan, ou Massachussets, não sei direito. Ela é candidata a professora.
                          Uma bela oportunidade para fazer novos amigos.

                                                                       ***
                          E os amores continuam rolando.
                          Tive notícias da chinesa e soube que o inglês que ela namorou aqui, foi pra cidade dela e está lá!
                          O engenheiro que namorava a brasileira, agora vive rodeado de mulheres. Parece um galo no galinheiro!
                         A italiana que terminou o curso não foi pra Itália. Ficou mais um mês, aqui perto em Chateaubelair, com o namorado vincentiano.
                         A húngara que namorava o  professor polonês, foi embora inconsolável. Ele está só, mas não demonstra muito sofrimento.
                        O professor venezuelano ainda está namorando a cuidadora de cavalos sueca.
                        E a gringa grandona, disse que é lésbica e está a procura de uma namorada.

                        Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                                  Eulina

















                     

                     
                     

segunda-feira, 5 de outubro de 2015




PLANTAÇÃO DE ÁRVORES

Segue o relatório que fiz sobre a ida à duas ilhas Granadinas: Bequia e Canouan, onde plantamos árvores em sete escolas. Seis em Bequia e uma em Canouan. Eu conto a ida à ilha de Bequia, onde ficamos dois dias, e eu participei do evento em uma escola. Conto também a ida e volta à ilha de Canouan onde eu compareci à única escola local.
Foi um trabalho confuso, mal organizado, pesado, porque tinhamos de carregar tudo, inclusive as cem árvores, mas muito gratificante. As crianças são muito educadas! Sempre sorridentes, meninas cheias de trancinhas, meninos com cara sapeca, olhos e dentes enormes! Prestavam atenção direitinho em tudo o que dizíamos e, nas ilhas, faz sentido plantar árvores frutíferas, porque, apesar da grande quantidade, as árvores das ilhas não são frutíferas. Assim, nosso trabalho não me pareceu inútil, muito pelo contrário. 
Amei fazer isso, apesar de todas as dificuldades relatadas em inglês. Sorry, amigos, tive que fazer esse relatório e fiquei com preguiça de escrever tudo de novo em português.
Só quero acrescentar que a viagem de caminhonete, do porto até a casa onde ficamos, em Bequia, foi uma das experiências mais surreais que eu já vivi!
Depois de colocar toda aquela floresta, mais a bagagem mais a comida, as enxadas e o cano com os desenhos no carro, nós entramos, sem saber direito como, cavando um espaço. A colombiana pequenininha sumiu, foi engolida pelas árvores! Uma americana enorme, corpo atlético de mais de 1,80m, entrou num canto, mas ficou com uma perna de fora, ficou puxando a perna. No fim, conseguiu, mas ficou toda torta, e eu ria o tempo todo, até que ela ficou brava:
- Why are you laughing? This is not funny!
- I am laughing at all the situation! I think this is so funny!
E o professor, aquele vegano, mais o irlandês, dono da casa onde ficamos, não conseguiram lugar, tiveram de vir correndo atrás do carro, o professor vegano todo suado e o irlandês quase rôxo, de tão vermelho, ambos bufando! Very, very funny!
E até hoje, quando me lembro, dou risada... it was really hilarious!
Depois de ler os relatórios, voce pode dizer eu li na tela da
Eulina

TREELYMPICS BEQUIA


On Wednesday, 30 of September, All the CCC Team went to Bequia in order to do the Treelympics 2015 works. We had the help of Miguel and Keke.
After a long meeting in the night before, when we tried to organize ourselves, we woke up at 5 am, had a nice breakfast, and start to go at 6 am.
The RVA pick up was already full of one hundred trees, so only four of us could go in the car. Nadhia Keke and Lina went only to Chateaubelair, where stay waiting for the van, and the others went straight to Kinsgtown to get the 8:30 am ferryboat.
Everybody was anxious and a little bit stressed, because there was a long way to go, before reaching the schools, do the presentations and finally plant the trees.
Keke, Nadhia and Lina took a taxi in Cahateaubelair and arrived in Kingstown about 8:30 am. They had some tasks to do there, before taking the 11:30 boat. At first, they went to the Lime Store, to buy a chip for Nadhia’s phone. After, they go to the supermarket to buy some foods for everybody. It was almost on time.
At this time, came the first surprise. The CCC team was all in the port! They have missed the first ferryboat, and were waiting for the other at 11,30 am, sat on the floor, next to the gate, near the trees, the backpacks, the food boxes, the hoes and the pipe with papers. So they were all together again.
When the ferry arrived, they all carried the trees and the other stuff to the first boat floor, in the place indicated by the saylor.
The trip in the boat was very nice, and when they arrived Bequia, Mr. D., the owner of the guesthouse, was in the port waiting for them. Then, they had the second surprise and a big problem. The surprise was that Mr. D. had already hired a pick up, and the problem was that there was no place for such a forest in the car.
In order to solve this problem, there was half an hour of negotiations between Mr. D., Miguel and the driver about the price and the script  of  the transportation. Finally they agreed to take everything and everybody, with a new price. So, CCC team started to put their forest on the pickup. It was a hard work. Such a small space to fit so many things and so many people. The girls had to sit around the trees and keep holding so they do not fall.  It was dangerous, because they had no protection, and they were afraid of falling, at each curve.  There was no place for Mr. D. and Miguel, and they had to run behind the pickup.
But fortunately, it was not a long way.  Every schools were near one of each other, and we left twenty trees in each.
After these adventures, we arrived at Rambles Guesthouse, around 1 pm and could start our job as it was scheduled.

Canouan Government School (Lina and Kelly)
On Friday, 2 of October, Kelly and Lina left the guesthouse to take the boat to Canouan at 10 am. There was a difficult journey, walk till the port carrying 10 trees the pipe and the hoe. Kelly carried 8 trees, and Lina carried 2 trees, the hoe and the pipe with the papers. They had to stop several times to rest a little.
When they got the port, the ferryboat came soon. They put the trees inside and entered. The boat was very comfortable with conditioned air, and they became glad because it would be a nice trip.
But, in the middle of the journey, one of the boat’s engines was broken. So, the boat started to sail very slowly and swing a lot.  They arrive Canouan almost in time to do the presentation, scheduled to 1 pm.
Fortunately the school was close. But it is was hard to carry everything again till the school. They have to stop to rest several times.
The school principal, Miss Andrea received Lina and Kelly friendly. Took them to the classroom, and after greetings, they started the presentations with the pictures of the pipe.  The children paid much attention to the information and the teacher helped a lot.
Then, every children went to garden to plant the trees. The teacher indicated a place and they started to dig a hole. But it was not possible because there was a big stone. They started three other holes and they all had stones. Only the fourth hole was able to receive a tree. Kelly explained how to plant, while Lina took photos. Then, they went to the back garden, where it was easier to dig holes, and planted more four trees. It seems that the children were having a great time.
Some children showed to Lina and Kelly a mango tree that they had planted last year, and there was one mango in the tree! They were very proud of it.
Kelly and Lina gave the certificates and the flyers to the teachers, and after saying good bye and had a big collective hug with the children, they started to come back to the port.
The boat was supposed to be at the port at 3 pm. But it was late and arrived only at 4:30 pm. In the meanwhile, Lina and Kelly had a lunch in a nice small restaurant in the beach near the port.
When the ferryboat arrived, it could not get to the pier, because of the broken engine. Then it anchored in the middle of the Canouan bay. Lina and Kelly had to take a very fast boat to go to the ferry. A little complication to climb to the ferry, but, it was well done.
The journey which is regularly done in one hour and a half, lasted, about three hours. And the ferryboat was rocking a lot, all the time. There was a movie in the ferryboat about an earthquake in Los Angeles and San Francisco. So, there was an earthquake inside the boat, and outside, the strong swing caused by the broken machine. Lina and Kelly was keeping trying not to get too much sick, all the time.
At last, they arrived Kingstown around 7:30 pm, called Francisco and was allowed to get a taxi. There was two more hours of curves in a taxi, till get RVA, around 9:30, trying not to vomit.
                                                                     ***