quarta-feira, 25 de março de 2015

São Paulo


                                                                                                                                          25/03/15



               Sampa, de novo!
               A vida nos prega cada peça!
               Tudo arrumado, tudo organizado pra ficar seis meses... e cá estou num vôo Gol rumo a São Paulo.
                As consequências burocráticas, operacionais e emocionais do assalto em minha casa foram se acumulando e chegaram a um ponto que  os problemas se tornaram insolúveis  e minha presença se tornou imprescindível. Estou voltando. Revoltada, injuriada, triste, muito triste.

               Na RVA foram muito compreensivos. Pude interromper o curso agora para retornar em julho, quando começa uma nova turma. É o que pretendo fazer.
               Mas primeiro tenho que concentrar esforços em resolver os problemas graves que me esperam em São Paulo.

                Tive que me despedir de todos os meus novos amigos...
                Rafael, o brasileiro que trabalhava lá há mais tempo, também voltou para ver a familia.
                A nossa despedida foi comemorada com uma caminhada pela linda estradinha até Chateaubelair, onde há um restaurante. A idéia era tomar um sorvete no terraço admirando a paisagem e o por do sol.
                Éramos quatorze pessoas numa mesa. E eu contei doze nacionalidades: três brasileiros, um casal de espanhóis, dois japoneses (um deles preto), uma dinamarquesa, um francês, um alemão, um vincentiano, um costariquenho, uma americana, uma húngara, uma chinesa e um inglês!  
                Todos juntos! Que lindo!
                 Acho que o que mais me impressionou, durante todo esse tempo que estive lá, foi isso: tantas nacionalidades trabalhando juntas, pacificamente
                Voltamos caminhando à noite, olhando as estrelas e os vagalumes!
                Não podia ter sido melhor!

                Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                         Eulina
        
               


               



















terça-feira, 24 de março de 2015

CURIOSIDADES


                                                                                                                                       21/03/2015


               As vacas daqui mugem fininho!

               Cada nuvem, quando chove, tem o seu próprio arco íris!

               Se não há lua nem nuvens, a noite tem milhares de estrelas.  E de vagalumes. Lindíssimo!

               Os abacaxis são pequenininhos, do tamanho de uma manga. Bonitinhos!
     
               Os vicentianos tomam banhos muito bem tomados. Podemos nos sentar perto deles e ficar à vontade.  Já os europeus...

                Quando andamos pela cidade, vamos sentindo o cheiro de maconha o tempo todo.

                 Mesmo nos lugares mais pobres, as casas são de alvenaria e grandes, com várias janelas e varandas. Bem diferentes das favelas brasileiras em que as casas são pequenas e amontoadas.

                Eu não vi antenas. Perguntei se não havia televisão, Disseram que havia TV a cabo e que o povo assiste a programação dos Estados Unidos. Mas à noite, as ruas estão cheias de adultos conversando e de crianças brincando.

               Tenho a impressão... só uma leve impressão... de que por detrás dos sorrisos, eles nos olham desconfiados...

                Existe uma grande árvore, com pequenas flores, que não são jasmim, mas cheiram igual. Uma delícia. Perguntei três vezes o nome da árvore, não entendi a resposta e fiquei com vergonha de perguntar de novo.

               O mato é igualzinho ao mato do Brasil. Tem dormideira, carrapicho, urtiga e todos os tipos de florzinhas amarelas que vemos nos matos do centro sul do Brasil. Tem o mesmo cheiro também.

                O vulcão, que fica no pico mais alto da ilha, inativo ha mais de 30 anos, é responsável pela terra fértil e pelas areias e pedras negras nas praias.

                O povo parece na  maioria, pobre. Mas em Kingstown, de vez em quando se vê uma senhora vestida com roupas finas e elegantes, com chapéus de abas largas, parecem saídas de um filme inglês, Eu vi uma meia duzia delas. O trânsito para para elas atravessarem a rua. E elas atravessam bem devagarinho, parece que estão desfilando.Muito legal!

                Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                       Eulina

             

               

             

               

           

sexta-feira, 20 de março de 2015

Sessão Fofoca

                                     
                                                                                                                                20/03/15

               Os horários daqui são rígidos. Café da manhã às sete, almoço ao meio dia, jantar às seis horas. Durante o dia, existe uma programação intensa. Mas à noite, só temos "common meeting" nas quintas feiras. Common meetting é a reunião geral na qual todos os alunos falam sobre o andamento de seus projetos e os "responsabilities groups", ou grupos encarregados da limpeza, da cozinha, das atividades culturais, falam sobre suas funções. É a democrática ocasião em que todos se manifestam e discutem em comum, todos as questões relativas à cada área de estudo ou de trabalho. Esporadicamente, há jogos ou projeção de filmes. O úlltimo foi de terror. Normalmente, todos ficam concentrados nos seus proprios computadores. Então, sobra tempo.

              E no tempo que sobra, eu comento, os assuntos mais palpitantes com a outra brasileira que está aqui. Ela não é aluna, mas faz trabalho voluntário na administração. Chamamos de sessão fofoca e tem ocorrido diariamente, entre oito e nove horas da noite, mais ou menos. A língua oficial é português e o assunto é a brasileiríssima fofoca. Seguem alguns comentários e descrições de alunos  e professores.

                Entre os alunos, temos um japones preto! Black Japa, eu nem imaginava que isso seria possível! Ele fala bem baixinho, com um sotaque terrível, trocando todos os "erres" por "eles" e vice versa. Quando ele fala comigo, eu fico fazendo um sorriso amarelo e torcendo para que o meu ham ham seja considerado resposta. Aliás, eu descobri que ham ham ou "yeah" pode ser resposta pra quase tudo o que eu não entendo. Talvez me achem meio retardada, mas cansei de dizer "speak slowly, please". quando não entendo, respondo ham ham ou yeah  e pronto.

              Temos uma espanholinha lindinha e seu marido nem tanto. São professores de mergulho. Dão aulas para os hóspedes. Temos dois ingleses. Um aluno e um hóspede.ambos falam como se tivessem uma batata quente na boca. Mas, como são gentlemen, repetem mais devagar quando eu peço. Temos tres jovens alemães, com cabelo feito soldados, que parecem ter saído de um filme sobre a segunda guerra. Duas jovens americanas, muito bonitas, uma da California, que cuida dos cavalos e outra da Carolina do Sul que é aluna. Bem simpáticas, Temos um casal de alunos:  ele é costariquenho e ela japonesa. Se conheceram aqui. Entre os professores, há dois casais, os diretores, dinamarqueses e uma  hungara que "namora/fica" com um vincentiano. E dentre os alunos vicentianos, não identifiquei nenhum casal, mas sei que existe, porque uma das meninas ia dividir o quarto comigo, mas preferiu ficar com um dos meninos. Imagino que sejam namorados. Ainda existe um dinamarquês que não usa desodorante e às vezes calha de eu ficar do seu lado na hora das refeições. É triste.  Descrevi só uma parte dos alunos e professores. Existem muitos outros.

                A minha turma deveria ter cinco alunos, mas começou só com três. Uma eslovena de vinte e um anos, bem doidinha, que estuda turismo na Eslovênia, mas está se dedicando a conhecer o mundo, viajando de maneira alternativa. Chegou aqui, como aluna do curso sobre ecologia, mas em uma semana descobriu que não ia aguentar dormir todos os dias às dez horas da noite e acordar às sete para o café da manhã. Foi embora há tres dias e agora está no Canadá, onde já arranjou um trabalho temporário. De lá vai pro Mexico e depois, quem sabe, pro Brasil.
                E a outra, a chinezinha, baixinha, magrinha, timidazinha, doçurinha, que também tem vinte e um anos, mas cara de quinze, se encantou com o hóspede inglês, parecido com as descrições do Sherlock Holmes feitas pelo Conan Doyle. Aparenta ter quarenta e poucos anos e tem em torno de um metro e oitenta de altura. É o par mais descombinado que já vi. Imaginem  Mr. Holmes, com uma gueixa! Não sei se existe ou existiu gueixa ou algo semelhante na China, mas a aparencia é essa. Ela faz confidências comigo, Ele podia ser seu pai, mas é seu primeiro namorado. Ela está apaixonada e disse que vai gostar dele para sempre...ai, que paixonite mais adolescente! Ela me pede conselhos eu digo que aproveite o momento, mas não faça planos para o futuro, e tome cuidado para não se machucar.

                Outro assunto palpitante, durante as sessões de fofoca, é a chatice das aulas. a escola foi fundada por um grupo de dinamarqueses que, depois de correr o mundo, nas décadas de sessenta e setenta resolveram fundar uma escola alternativa, pois não se conformavam com a mesmice do ensino formal. Eles descobriram que viajando, aprendiam muito mais. No início, a escola fundada era itinerante, dentro de um ônibus. Depois, eram vários ônibus. Iam cada um para um país diferente. Depois de passarem por países muito pobres e terem ajudado na construção de obras locais, descobriram que, além de aprender, eles podiam também ensinar. então começaram a usar o trabalho voluntário em países pobres, como fonte de aprendizado.
               E é essa a filosofia da escola até hoje.  Os anos se passaram e o pioneirismo virou um grande empreendimento, que não dá lucro, mas que proporciona uma excelente qualidade de vida a todos. e esta escola no Caribe, parece ser o polo gerador de idéias para todos os programas que foram criados no mundo.
              Então, os anos se passaram e os jovens, já não tão jovens, se acomodaram. As aulas teóricas são de uma chatice à toda prova. O professor fala, fala, depois mostra um documentário bem comprido, depois dá um texto pra gente ler e discutir com a turma e finalmente tem uma lição de casa. Até agora sempre foi fazer um resumo do que foi dito e discutido e encerrar com uma opinião pessoal. Pra mim é especialmente difícil, porque não consigo entender direito o que dizem os documentários e para ler o texto e escrever a lição, preciso usar o dicionário muitas vezes.
             Olho para os outros alunos durante a projeção dos filmes e vejo a cara de tédio. Pelo menos, eu interpreto como sendo cara de tédio. Eu sempre dou umas cochiladas, apesar de me esforçar pra ficar acordada. Mas, depois de dois meses de aula teórica, começa o estágio junto às comunidades. Não vejo a hora!  Esse é o assunto mais sério da nossa sessão de fofocas.

             Eles comem pepino e cebola frita no café da manhã e fazem salada de quiabo cru com molho de pimenta. Voces podem imaginar isso?
             Como voces vêem, não falta assunto para as fofocas.

              Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                         Eulina


             

















       

quarta-feira, 18 de março de 2015

Vivências


                                                                                                                                17/03/15

          Tenho minha área de limpeza. Talvez, devido à minha idade avançada, me deram uma área fácil: a lavanderia e o corredor da lavanderia. Eu limpo tudo direitinho e rapidinho. Aí, vem a encarregada do grupo da limpeza e diz:
- Well, this is clean. So you have time to clean the terrace too...
-  Sheet!  - penso, mas não digo. Fui limpar o terraço.
Tem um gringo hóspede sentado lá, tomando chá. Hóspedes não limpam. Só alunos limpam.
- Hello, Lina are you cleanning?
- Não, sou uma bruxa treinando para voar com a vassoura! - penso, mas não digo. Dou um sorriso amarelo.
- Yes!
            E ele continua sentado tomando chá, enquanto eu varro o chão. Fico imaginando como se sente uma empregada doméstica.
            Quando acabo a limpeza, vou colocar a vassoura no lugar e passo pelo salão principal. Vejo a diretora da escola varrendo o salão.Me sinto reconfortada. Democracia!

                                                                        ***
          Os feijões que plantei já estão todos com um cabinho e duas lindas folhinhas bem verdes! Por enquanto, estão no "berçário", mas estamos preparando a "cama" deles. A cama é o canteiro onde serão plantados, junto com brócolis, pimentão, tomate, etc., tudo junto e misturado. Cada planta absorve um tipo de nutriente do solo. Se enchemos o canteiro com uma única planta, o solo se esgota e teremos desperdiçado todos os outros nutrientes. (espero que eu tenha entendido bem; se não é isso, é alguma coisa parecida). Mas se plantamos várias especies de plantas, vamos aproveitar todo o potencial do solo. Alem disso, na natureza não existem canteiros de uma só coisa. Tudo cresce junto e misturado.
            Preparar a cama significa colocar uma camada de terra, outra de esterco, outra de papel, outra de folhas secas, tudo como se fosse uma lasanha. A cama fica preparada assim por alguns dias e depois podemos tirar as mudinhas do berçário, e replantá-las na cama. Depois, espalhamos mais uma camada de esterco, com cuidado para não cobrir as mudinhas e finalmente cobrimos com mais um montão de folhas, desta vez verdes.
            Esse é um trabalho que "never finish" segundo a professora. Depois da colheita, começa tudo de novo.
            Quando comemos uma feijoada, ou uma salada de alface, nem desconfiamos o trabalho que dá.  Adoro essas aulas!

                                                                        ***                                                                                                                                
           Aqui existe um grande pássaro muito branco, com pernas e pescoço comprido, Bem bonito. É só olhar para qualquer janela, que vemos uns dois ou três. Parece uma seriema. A seriema do Caribe.
            Outro dia, havia um trator preparando uma área para o plantio. Imagino que seja de milho.
            O Trator rasgava a terra e todas as seriemas brancas que ficam espalhadas pelos arredores seguiam o trator! Muito engraçado!
- Why? - pergunto.
- Because the worms appear!
            Que coisa, que cena, o trator amarelo rasgando a terra negra e seriemas  brancas atrás
comendo minhocas!

                                                                      ***

            Aula de História. A ilha de são Vicente foi descoberta por colombo no dia de São Vicente. Mas Colombo nunca esteve aqui. Estava navegando, avistou uma ilha ao longe e perguntou:
- Que dia é hoje?
- Dia de São Vicente!
- Então aquela vai ser a ilha de São Vicente.
            Foi assim que o professor vicentiano começou a aula. Depois contou que a ilha foi ocupada pelos ingleses, depois pelos franceses, depois devolvida aos ingleses, tudo num extremo  e cruel desrespeito com os nativos. Desde o "descobrimento" até o século 19, os povos nativos foram sendo expulsos de suas terras e tiveram sua cultura destruída. Enquanto isso, chegavam inúmeros navios negreiros, cheios de escravos. As raças foram se misturando e chegaram à população atual, chamada de garifuna, que é basicamente descendente de índios e negros. Houve também miscegenação com indianos e portugueses. Eu não entendi bem porque, mas eles também vieram pra cá.
            Fomos a Kingstown ver um museu. Bem pobre, com fotos e algumas peças de argila, ferramentas primitivas, tambores, roupas usadas em rituais religiosos, tudo muito arrumadinho, mas bem pobrinho. Tivemos uma aula chata com um músico garifuna e outra mais chata ainda com uma especialista em ervas medicinais.
            Apesar de toda a chatice, deu pra ter uma idéia sobre a origem dos vicentianos e sua sobrevivente cultura. Deu pra ver o quanto sofreram e o quanto foram explorados pelos colonizadores.
            Ah! Ia me esquecendo! Os rastafaris, tão numerosos, são o resultado da religiosidade indiana, misturada com a cultura garifuna, se é que eu entendi, do muito pouco que foi explicado. Já o tamanho dos cabelos, ninguem explicou. É assim e pronto.

                                                                       ***

           Pulei de novo! Desta vez, do penhasco mais alto! Nem eu acredito nessa façanha!
           Mas o mais perigoso não é pular. É sair da água. Para sair, temos que subir pelas pedras, conseguir achar as pedras certas, durante o intervalo das ondas. Quando as ondas vem, a gente tem que ficar quietinha agarrada em alguma saliência que nos suporte. E assim vamos, subindo devagarinho, até chegar na trilha. É dificil, perigoso. Mas eu consegui!

          Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                    Eulina












         

quarta-feira, 11 de março de 2015

COISAS BOAS


                                                                                                                                 11/03/15


               Suspense!  Eu me esqueci de contar: os brasileiros tinham ido trabalhar num vilarejo próximo. Voltaram sãos e salvos. Aqui não é um cenário para romances da Agatha Christie.

                As pessoas são, na maioria muito simpáticas, educadas, falam "sorry" e "thank you" toda hora e tirando aquele probleminha do banho e do jeito de comerem, são todos muito educados. Falam um de cada vez,  não interrompem a fala de ninguem, prestam muita atenção uns nos outros, mesmo quando o inglês é estropiado feito o meu. Enfim, gente fina.

                Às vezes, penso que os europeus são um tantinho arrogantes... mas é só um pensamento passageiro, não é uma constatação.

                A maioria dos alunos tem entre vinte e trinta anos. E a maioria dos professores, entre quarenta e cinquenta anos. Eu, como sempre, estou fora da maioria, sou uma exceção.

                Minhas jovens coleguinhas de classe são um baratinho... completamente diferentes uma da outra. A lourinha, eslovena Natasha é super extrovertida, barulhenta espalhafatosa, agitada e gay assumida. E a chinesa, bem magrinha Sixia, é quietinha, toda doce, toda tímida  e  nunca teve namorado. As duas parecem irmãs, Brigam e fazem as pazes o tempo todo e vem contar  pra "vó", que no caso sou eu. Até que eu gostaria de ter duas netas assim!

                No sábado à tarde, fui às cachoeiras novamente, Levei minhas "netas". Delícia.
                No sábado à noite, fizeram uma festa de boas vindas para o novo "team", como eles chamam: Natasha, Sixia e eu. Uau! Que time! A festa foi joia. Teve violão, todos cantam junto, muito legal e depois brincadeiras de salão, super engraçadas, rimos muito.  Fizeram docinhos de aveia e suco de carambola. Como sou diabética, fizeram docinhos de aveia "sugar free" pra mim... Tive que comer. E considerando o carinho,.. eu quase gostei. Mas disse que gostei. Na verdade gostei do carinho, não do docinho.

               E no domingo, fomos todos à praia. Estava um dia lindo, e foi tudo perfeito. Numa das pontas da praia, a montanha cai diretamente no mar. Eles chamam de penhascos. Dá pra gente subir lá e tem umas pequenas saliências nas pedras, onde os sensatos se sentam pra ver a paisagem e os loucos usam como se fosse trampolim, e pulam pra cair num poço de mar azul. Eu subi lá, só para olhar a paisagem, lógico. Não sou louca.

              A vista é lindíssima. A cor do mar do Caribe é indescritível! Uma mistura perfeita de azul e verde, muito transparente, contrastando com a areia negra, é, como diria Caetano, beleza pura! Dá pra ver uma pequena baía e a vila de Chateaubelair do outro lado. Maravilha!

               Mas eu não fiquei me deslumbrando com a paisagem durante muito tempo. Fiquei olhando os loucos saltando.

- Pulo?
- Não, é perigoso, Não pulo.
- Mas deve ser tão bom!
- Não! Eu não sei nadar direito!
- Mas é tão lindo!
- Não! Tem pedras, eu posso bater nas pedras e me machucar!
- Mas eles parecem tão felizes, pulando..

                E foram se acabando os argumentos contrários, esmagados pela vontade de pular... afinal, por que não?

                Pulei! Amei!

               No jantar, depois de contar minha façanha, de ter pulado do penhasco de cinco metros de altura, me perguntaram qual será o meu próximo desafio, A resposta veio tão rápida e confiante, que até me assustei:

- Pular dos sete metros!

               Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                           Eulina


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terça-feira, 10 de março de 2015

COMIDA


                                                                                                                                          10/03/2015



               É ruim.
               Natureba mas de vez em quando, tem carne. Pedaços irreconhecíveis de frango cosido demais, peixe cheio de espinhos, carne moída aguada ou carne de porco engordurada. Nos dias em que tem carne, sempre há um prato com legumes, "only for vegetarians". Um bom bife, nem pensar. E o pior, tudo é cheio de pimenta! Só a salada é boa, mas outro dia eu resolvi colocar na salada o molho que eles fizeram... arg! Mais pimenta, impossível. As sobras vão para o porco. Será que ele gosta de pimenta? Deve gostar, porque está bem gordo.
               Quando fui a Kingston, procurei um restaurante, nas três ruas. E, em todos os que achei, quando olhei a comida, perdi a fome. Fui a um supermercado e comprei batatas fritas, pipoca, bananas fritas, pão queijo, biscoitos e fiz um sanduiche de pão com queijo pra comer lá e trouxe o resto para o meu quarto. Assim, tenho o que beliscar, quando me dá fome.
               O café da manhã até que é bom, mas o leite é sempre servido gelado. Eu gosto quente. E tem tomate pimentão verde e cebola frita! Tenho saudade de pão com manteiga na chapa.
               Além disso, os horários! Café da manhã às sete, almoço ao meio dia, nos domingos, a uma hora e pasmem, um lanche antes do almoço, às onze horas da manhã. Jantar às seis horas.
              As frutas do pomar são liberadas. Eu estou me tornando vegetariana e frugal.  Como muita salada e muitas fruta.  Primeiro achei que ia engordar, porque a falta de carne me faz comer muito mais. Mas, a minha roupa está ficando larga.
              Estava escrevendo e tocou o sino para o jantar. Só pra me desmoralizar, o jantar hoje estava bom. Sopa de legumes, arroz, carne de porco, abóbora e salada. Tudo sem pimenta. E o porco com um pouco menos de gordura. Comi muito, pra compensar o almoço que foi purê de batata com feijão e salada.
               Ah! Temos os carboidratos e os grãos: arroz feijões de vários tipos, batatas variadas, cará fruta pão, kinua, massas (servidas puras, sem molho nenhum!) grãos de cores formatos e nomes desconhecidos, mas tudo é vermelho de paprika, amarelo de curry, ou marrom de pimenta, Não se sente o gosto da comida, só o dos tempero.  Eu faço parte do grupo da cozinha. Na primeira reunião, falaram sobre as toalhas. Na segunda, eu tentei dar alguns palpites no cardápio, e me disseram pra falar com as cozinheiras. Mas elas são tão mal humoradas... acho que é por isso que a comida é ruim. Eu respondi que tenho medo de falar com elas, quando eu dou bom dia, elas me respondem com um grunhido, sei lá o que dizem, mas dizem sempre com cara feia.
               Aconteceu o que eu temia. Sermões sobre o Zero-Cal. Aspartame faz mal pra saude. Ai meu saco, tenho que explicar  que já tentei outros adoçantes e não gostei. Continuei ouvindo o sermão. Me deu vontade de falar sobre o colesterol da carne de porco, mas... deixa pra lá, não quero aumentar o sermão.  mas ainda vou achar um jeito de falar da pimenta e do colesterol.

                                                         Gringos

               Enchem o prato. Parece uma pirâmide. Depois misturam tudo, fazem uma montanha homogênea, e comem segurando o garfo como se fosse o corrimão de uma escada. Enchem a boca e falam de boca cheia! Quando a comida não cabe no garfo, empurram com o dedo! Afe!

               Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                      Eulina


















sexta-feira, 6 de março de 2015

ENFIM, AS AULAS!


                                                                                                                                           06/03/15

               Nas terças e quintas, temos aula na horta.  Adorei plantar feijões no berçário. São grandes bandejas, com depressões em forma de copinho, parecidas com as bandejas de carregar ovos, que enchemos de terra preparada e depois colocamos um grão de  feijão em cima de cada copinho e cobrimos com outra camada bem fininha de terra. Depois regamos. Pronto estão plantados. Minhas duas jovens colegas de classe e eu platamos 16 bandejas. Feijão, abóbora, pimentão, e várias outras coisas que eu não sei o que são. Ás vezes a semente é grande feito a do feijão, às vezes, micro, como a do pimentão.  Havia ainda umas sementes pretinhas, bem pequenininhas, difíceis de isolar só uma e tem de ser uma sementinha em cada copinho.

                Na outra aula, pegamos várias mudinhas já crescidinhas do berçário e transplantamos para os canteiros, ou camas, como eles chamam. Essas camas foram cuidadosamente preparadas, com terra, esterco de cavalos, folhas secas e jornais velhos. Com uma faca velha, fazemos um buraquinho, tiramos a muda do copinho, com cuidado para não machucar a raiz e colocamos no buraquinho. Depois ajeitamos a terra com carinho, pra mudinha ficar bem em pé.

               Acabamos as aulas sempre sujas, suadas, com as unhas pretas, cheia de picadas de formigas, com coceiras por conta de mato picante, mas muito felizes. Depois do banho, estamos ótimas. Vimos um ninho de formigas, vários tipos de bichos com perninhas, lagartixas e uma minhoca bem gorda com língua!  Que coisa! Um minhocão rebolando e numa das pontas, uma linguinha! Acho que poderia ser um rabinho também. Tudo depende do ponto de vista.

               As aulas teóricas foram, até agora, na maioria chatas. A de informática foi do jeito que eu imaginava: horrivel.  Eu  não entendo nem o meu computador, nem as explicações em inglês.  Estavam explicando como funciona esta escola e como funciona o sistema de avaliações on line. Ah meu Deus! Será que algum dia vou aprender isso? Ainda bem que a chinezinha me adotou como vó e teve toda a paciência de me explicar com seu sotaque, dando muitas risadas das caras que eu fazia, quando não entendia. Enfim, consegui completar o homework.

             Hoje eu tive a primeira aula sobre ecologia. Foi ótima! tomara que daqui pra frente seja assim.

             É tudo muito burocrático. Existem grupos pra tudo. Eu faço parte do grupo "Food & Kitchen" e imaginem que recebi um manual com quatro páginas tamanho A4, sobre como administrar uma cozinha. Terei reuniões sobre a cozinha todas as sextas feiras! Hoje, na reunião, ficaram discutindo a necessidade de comprar toalhas e onde dependurá-las depois. Eu quase dormi.  E ainda vou ter que ler e entender o manual, em inglês.
            A lâmpada do meu quarto queimou, eu tive de falar com alguem do grupo da manutenção, que disse que teria de pedir uma nova lampada pro líder do grupo, que não estava disponível no momento. Procurei o Rafael e ele sabia onde fica o estoque de lâmpadas, pegou uma nova e trocou pra mim, no ato. Ah! o jeitinho brasileiro, nessas horas é ótimo.

                                                              Gringos

              Na hora do almoço, todos conversam sobre o Stephen Hawking, e sua insistência em saber como foi o início do universo.  Muito chato. Eu comia quieta. Até que perguntaram pra mim:

              - Lina, what do you think?
              - What is there before the start? And after the end? - pergunto.
              - Oh! Certainly there is something!
              - Of course there will always be something before each start and after each end! - retruco.
              - Yes, but this is an interesting discussion, don't you think?
              - Interesting and useless. Because this is eternity and we will never understand eternity!

              Eles riram muito, mas eu estava fando sério.

              Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                      Eulina      











segunda-feira, 2 de março de 2015

PRIMEIRO DIA DE AULA



                                                                                                                                             02/03/15


               Ganhei um quadro com todo planejamento do mês de março. Todas as minhas atividades, devidamente programadas, minuto a minuto. Vou ser responsável diariamente pela limpeza de um dos corredores e da lavanderia. Uma vez por semana, vou ajudar na cozinha. Aulas teóricas, três vezes na semana, reuniões gerais duas vezes e aulas práticas, todos os dias.  É basicamente isso.
               As aulas teóricas e as reuniões eu ainda não sei como serão, mas as práticas vão ser nos viveiros de plantas, nas hortas, pomares, granja, chiqueiro... super legal! Hoje fomos visitar tudo isso. Fui comendo goiaba, carambola, as mangas são poucas e ainda  verdes.  Aqui é inverno, a primavera vai começar em 21 de março, no mesmo dia em que começa o outono no Brasil. As mangueiras ainda estão floridas, provavelmente teremos muitas mangas daqui uns dois meses.

               Por enquanto, tenho duas colegas de classe: uma chinesa e uma eslovênia, ambas de 21 anos. Bem humoradas e bem engraçadas, as duas. A eslovênia é a Natasha. Loira baixinha e peituda, um pouco gorducha, olhos redondos e azuis, cabelos  estilo moicano, voz forte, de contralto. Fala como americana, eu entendo tudo o que ela diz. A chinesa se chama Sixia (que nome, não?) também é baixinha, mas é magrinha, com cabelos compridos obviamente lisos, escuros e com franja. Ambas aparentam ter 15 ou 16 anos. Me sinto avó delas. Mas são super legais. Adorei. Pelo menos por enquanto. Tomara que eu continue gostando.

               Eu tinha entendido que era pra ter mais duas pessoas. Mas não sei se não chegaram ainda, ou se não vem mais. Pode ser também, que eu entendi tudo errado. As vezes tenho preguiça de perguntar coisas, porque as respostas são muito longas e complicadas. Eu tenho preguiça em português, imaginem em inglês...

                                                                  ***

               Banho é uma questão complicada! Gringos não gostam de tomar banho. Aí... acontece que quando eu me sento do lado de um gringo, na hora do almoço ou da janta... às vezes é um pouco difícil... mas estou ficando esperta e me sentando do lado dos que gostam de tomar banho.

                                                                  ***

               Aqui tem um casal de gatos. A gatinha teve filhotes, no quarto de um estudante. Peço pra ver, entro no quarto... passo mal, quase saio. Prendo a respiração. Que cheiro! Que bagunça! Tudo fechado, tudo abafado, tudo espalhado pelo chão! Num canto, em cima de uma pilha de roupas está a gatinha com seu lindo filhotinho. Eram dois, um morreu. Meu Deus! E o dono do quarto é tão simpático... como pode?

               Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                          Eulina        

KINGSTOWN

                                                                                                                             

                                                                                                                                        28/02/15



               Aqui é longe mesmo.
               Para ir a Kingstown é preciso mais ou menos uma hora de caminhada até Chateaubelair, onde fica o ponto de parada das vans que fazem o transporte coletivo. Não existe transporte público, Não existe ônibus. Existem motoristas proprietários de vans que fazem o transporte, como querem. Andam pela única estrada cheia de curvas, carregando gente, de uma cidade para outra. A ida de Chateaubelair para Kingstown, acontece por volta de seis horas da manhã, quando as vans passam pelo ponto onde as pessoas se aglomeram. Não existe fila, existe um ajuntamento de pessoas. Nunca se sabe quantas, nem quais vans estarão a caminho de Kingstown. Tudo depende dos humores dos motoristas. A única coisa que se sabe é que as vans  estarão sempre lotadas..
               Se eu quiser ir a Kingstown, devo acordar por volta de 5h., caminhar até Chateaubelair, ficar no ponto e e disputar à cotoveladas, um lugar dentro da van,

               Ainda bem que eu trouxe tudo para seis meses, porque não dá pra enfrentar essa maratona cada vez que precisar comprar um xampu ou desodorante. Ficamos todos aqui na dependência do carro da RVA, que vai regularmente à cidade, para as compras, e demais providências. Mas são só cinco lugares e sempre há várias pessoas querendo ir.Tive sorte, nesta semana de folga, tive oportunidade de ir duas vezes.

               Kingstown é uma cidade pequena, feiosa, pobre, suja e movimentada. Muita gente na rua. É uma cidade costeira, mas não  tem praia. Tem tres ruas principais, nenhum semáforo. Nos dois cruzamentos mais movimentados, fica uma mulher, policial, com um lindo uniforme branco e preto, dirigindo o trânsito, Eu pedi para tirar foto e ela fez pose. Falei pra ela que  achava lindo seu uniforme, ela ficou toda sorridente e orgulhosa.

               Aliás, muitas pessoas usam uniforme. Cada escola tem o seu, meninas de saia pregueada, verde, grená, marrom, xadrez, etc., e meninos com a calça da mesma cor. Camisa branca ou de cor clara e às vezes, uma gravatinha. Vi mulheres com um uniforme todo branco e um chapeuzinho também branco, igual  ao das fotos antigas de enfermeiras. Acho que são enfermeiras mesmo. Andam bem empinadas, se exibindo. Muito legal! Homens com um uniforme marrom claro e quepe, devem ser policiais,  ou todo branco, podem ser enfermeiros também, ou médicos. Mas todos os uniformizados parecem bem felizes de ostentar suas roupas.

               Ah! e tem os Rastafari... calças jeans imundas, camisetas regata, muito decoradas, sempre fumando. E os cabelos! Enormes, (des)arrumados em longos rolinhos, que   chegam até a cintura quando soltos, ou então presos em uma grande espiral amontoada no alto da cabeça. Às vezes, muitas vezes, depois de amontoados na cabeça, o cabelo é coberto com um gorro de crochê, multicolorido... um horror! Eles ficam com um cabeção, medonho! Parece um ET de touca.
              Não identifiquei as mulheres rastafari. As que reparei, com o cabelo comprido de rolinhos, usavam roupas normais e limpas. Não estavam fumando. Vi umas mulheres com túnicas coloridas e turbantes. Outras tem lindos penteados com tranças de todos os tamanhos e em todos os formatos. Existem muitos "salões de beleza" e eu entrei em um pra ver. As cabeleireiras estavam fazendo tranças nas clientes.  As mulheres são  bonitas, tem  seios e bunda grandes e cintura bem fina.  Rebolam muito. Quando envelhecem engordam.
               Mas todos se movem seguindo um ritmo interior. Deve ser reggae, um balanço ao mesmo tempo forte e lento. Aliás o ritmo não é tão interior, porque se ouve reggae em todo canto!

               Vi algumas igrejas anglicanas e uma igreja católica, que fica no meio de um cemitério. Vi o mercado, cheio de frutas e, verduras, grande e movimentado, a feira na rua beirando a costa, três palacetes negros (devem ter sido construidos com pedras vulcânicas) que poderiam muito bem pertencer à familia Adms...  só faltava sair um fantasma pela janela. E acho que é só. Tudo muito sujo, muito feio, esgoto fedorento corre a céu aberto nas ruas e num riacho imundo...
              Ha também, os inevitáveis supermercados, iguais em todo o mundo e as lojinhas de bugigangas chinesas, coreanas e etc, que arruinaram  os artesanatos locais, em todos os países.
              Que pena! Um lugar tão bonito e tão maltratado!
              Enfim, o mais bonito de Kingstown é a estrada para se chegar lá. A cada curva se vê uma nova e deslumbrante paisagem!

             Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                     Eulina