quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Noite de Natal

                
                                                                          
                                                            NOITE DE NATAL


                                                                                                                                    24/12/2012

     Em Zababdeh, passamos a noite na casa de palestinos. Era o que eu mais esperava, pois assim pudemos ver de perto e participar da vida deles. Fomos divididos em pequenos grupos e cada grupo ficou em uma casa. Andrea e eu ficamos na casa de uma família cristã.  Os italianos foram acomodados em três casas de  muçulmanos.

    A nossa família era cristã anglicana. As mulheres não cobriam os cabelos, usavam roupas ocidentais e sentaram-se à mesa conosco. O pai é enfermeiro, a mãe trabalha em casa, fazendo um serviço burocrático com computadores, além do serviço doméstico. Três crianças: uma menina de quatorze anos, e dois meninos um de oito e outro completou nove anos na noite do Natal. A casa, fica no último andar de um predinho. Nos andares inferiores, moram a avó, os tios as cunhadas e mais várias outras crianças.

    A  sala é grande, cheia de sofás e com uma das paredes coberta por uma estante, repleta de copos vasos xícaras, fotos, estatuetas, trabalhos de escola das crianças e diversos badulaques no gênero. Num canto, uma grande árvore de Natal, muito enfeitada. tudo muito brega, mas muito aconchegante.

    Chegamos depois de dezenove km. de caminhada, e logo nos foi oferecido um chá, com biscoitinhos natalinos feitos pela esposa. Ficamos na sala, conversando e comendo os biscoitos. Ela trouxe uma cesta de frutas também. Eu comi uma banana. O marido  nos conta como vivem oprimidos pelos "israelis", enquanto a esposa alterna a participação na conversa, com os preparativos para a festa de aniversário do filho. Com a diferença da língua local, são parecidos com qualquer família de classe média, moradora em algum bairro periférico da cidade de São Paulo, dessas que o Faustão mostra, nos domingos. São todos muito acolhedores. Podemos nos entender, porque todos falam inglês.  As crianças criam pássaros, nos mostram as gaiolas. Atitude contraditória, para quem se diz privado de direitos... Parece que nós despertamos mais a curiosidade deles, do que eles a nossa. Eles chamam os parentes e todos vem nos ver, perguntar de onde somos, o que estamos fazendo, e nos contam historias tristes sobre os "israelis". E sempre vão nos oferecendo mais comida.

     Até que alegando cansaço e vontade de tomar banho, fomos para o quarto das crianças, onde vamos dormir, nas duas camas, com pilhas de cobertores e uma infinidade de bichinhos de pelúcia. O banho foi complicado. A água quente sai de um chuveirinho daqueles de "telefoninho", que para nosso espanto, fica dependurado à altura da  cintura e toda vez que suspendemos, esfria. Então, para o banho ser quente, precisamos ficar de cócoras. Bem complicado. Não há box por isso a molhadeira é total. No canto há um rodo com um pano. Limpei tudo direitinho. Mas, um banho mesmo assim dificultoso, é sempre um banho! Depois de uma caminhada, então é joia!

     Banho tomado, roupa limpa, vamos jantar. Comida boa e farta, servida na cozinha. Fico olhando. Família bonita. Alguns comem muito, outros não comem, os pais insistem, a esposa senta-se conosco, mas come só um pouquinho. Mas todos são sorridentes e bem humorados. Falam muito, dá pra sentir o carinho entre eles.

     Depois da janta, começam a chegar os outros parentes: avô, avó, vários tios, tias, primos, muitas crianças, todos moram na mesma casa, nos outros andares. As crianças fazem folia. Todos cantam parabéns, o menino apaga as velinhas, e as mulheres servem enormes fatias de bolo, além dos biscoitos. Graças à minha diabetes, eu consegui comer só uma fatia bem pequena.  Andrea teve de comer dois imensos pedaços de bolo.

      Os palestinos falam muito, riem muito, são carinhosos uns com os outros. Casa cheia, crianças excitadas, os adultos nos explicam que daqui a pouco vai chegar o "Baba Noel".  Andrea e eu ficamos também excitadas e curiosas para ver o "Baba Noel"... aí, começamos a ouvir jingle bells, cantado em árabe, o som foi crescendo, crescendo até que entraram seis "Babas Noéis"! Um adulto, com um saco de brinquedos e outras cinco crianças, todos devidamente caracterizados, com fantasias rústicas, barbas de algodão,  tocando sinos, tambores e cantando. Eu entrei no clima de tal maneira, que quando percebi, estava pulando e batendo palmas, como todas as crianças. Olhei pra Andrea e ela também estava pulando e cantando.

     O "Baba Noel" adulto, abriu o saco e foi distribuindo um presente para cada criança. Brinquedos bem simples. Nenhum eletrônico. A menina adolescente, ganhou um guarda chuva! Um guarda chuva no deserto, deve ser uma raridade, porque ela ficou felicíssima, olhos brilhantes, abria e fechava o guarda chuva, andava pela sala com ele aberto, toda faceira. Os meninos ganharam bolas, que imediatamente começaram a jogar, aumentando a confusão. É o auge da festa! Todos falam ao mesmo tempo, falam alto, falam conosco, nos perguntam coisas, eu respondo, conto das festas de Natal no Brasil e Andrea conta das festas na Alemanha. Mas, durou pouco. Logo todos vão embora, porque vão à Missa do Galo.

     Andrea e eu vamos à Missa do Galo. Faz frio à noite, (o meu termômetro interno me diz que deve fazer uns doze graus centígrados). Então, além do meu casaco corta vento de peregrina, eu me enrolo na mantinha que roubei no avião. O casaco peregrino de Andrea é mais quente que o meu.  A  Missa segue o rito anglicano e é rezada em árabe, numa igreja situada num vilarejo no meio do deserto palestino! Que coisa! Inimaginável! Quase inacreditável!

   Como não dava para entender nada do que o padre dizia, e depois de dezenove km. de caminhada, muita comida, bolo, festa de aniversário e Baba Noel, cochilamos bastante, durante a missa. A certa altura, nos cutucaram, porque o padre estava falando em italiano, desejando as boas vindas para o grupo de peregrinos italianos. Ele não sabia que justamente nós duas não éramos italianas.

      Depois da missa, na frente da igreja, todos se confraternizam. Mais uma vez, somos a atração do evento. Todos nos cercam, nos olham, nos fazem perguntas. Voltamos para casa caminhando e ainda nos convidaram a visitar mais duas casas de parentes, onde entramos, sentamos, tomamos mais chá com biscoito. Numa das casas além do chá e biscoitos, nos serviram licor de cerejas e para petiscar, pepino em fatias! Que coisa!

     Depois de tanta agitação, tanta comilança e tantas emoções, chegamos em casa exaustas e finalmente dormimos feito anjos, no meio de um zoológico de pelúcia. Foi um Natal inesquecível!
                                                                  

                                                                 ***
     Voce já pode dizer Eu li na tela da
                                                       Eulina


   

sábado, 26 de janeiro de 2013

Jinin/ Zababdeh

                                                     

                                                  JININ - ZABABDEH 
                                                                                                                                           24/12/12

    Existem três caminhos que vão de Nazaré a Belém. Um a leste, beirando o Rio Jordão, um a oeste, beirando o Mar Mediterrâneo e outro pelas montanhas, o caminho do centro. É esse que, segundo todos os relatos da época, foi trilhado por Maria e José. Foi esse o caminho que trilhamos.

     Paisagem ondulada, com montanhas parecidas com as de Minas. Só que ao invés de verdes, são marrons. Cobertas de terra cor de caramelo e de pedras. Vegetação rasteira, espinhuda e nos vales, pequenos povoados, com algumas plantações em volta de poços de irrigação. Como os palestinos não possuem território, ocupam o território israelense, os "israelis" (é como os palestinos chamam os israelenses) são donos dos poços de irrigação. Eles verificam todas as semanas a quantidade de água que foi utilizada. Se a quota for ultrapassada as penalidades vão de multa a fechamento do poço. Um horror. Então, as plantações também são pequenas. Proporcionais à quantidade de água. Segundo os palestinos essa é uma das maneiras de se exterminar um povo.

     Subimos montanhas e atravessamos vales. Muitas pedras. Muitas ovelhas e seus pastores. A paisagem bíblica perfeita. Enfim! Era isso o que eu queria! Sentir que estava pisando o mesmo solo que Maria e José pisaram.  Fui pensando neles, José caminhando na frente segurando a rédea, Maria sacolejando no burrico, e na garupa, os sacos com a bagagem. Comecei a rezar. Minha reza consiste  em me lembrar das pessoas  da família próxima, dos parentes afastados, dos amigos que vejo com frequência, dos que vejo pouco, dos amigos que fiz e nunca mais vi, e até dos inimigos, que porventura eu tenha. Vou caminhando e me lembrando de todos, um a um. Desejei Verdade, Justiça, Paz e Amor para todos e para todos os povos também.

     Não me lembro de ter visto cenas mais pacíficas do que as ovelhas com seus pastores nos desertos da Palestina. Vimos inclusive um pastor conduzindo uma cáfila, com camelos jovens e alguns filhotes. Eles ficam espalhados por entre as pedras, comendo as ervas e mastigando. Aparentam ser tranquilíssimos.
     Achamos uma árvore. Paramos para o almoço. Nidal vai colhendo ervas pelo caminho e na hora do almoço, faz uma fogueira, ferve água e faz um chá. Nós nos sentamos no chão, comemos nossos lanches, e tomamos o chá.

     Cada um procura uma moita para fazer pipi. Eu procurei a minha, achei uma bem legal, um pouco afastada, não dava pra ninguém me ver. Fazer pipi com a mochila e a roupa de andarilha é uma atividade complicada. É preciso abrir a  mochila, pegar o papel, abrir a calça, desviar dos matos com espinho, abaixar cuidando para não perder o equilíbrio, e depois cuidar para que o pipi não atinja as pernas, nem a calça, nem as botas. São as únicas ocasiões na minha vida, que eu tenho inveja de homens. Quanta facilidade! Pois bem, eu estava tão concentrada nessa árdua tarefa que nem ouvi barulho nenhum, nem prestei atenção em qualquer outra coisa. Mas, eis que quando acabo de me limpar e de enterrar o papel, levanto a cabeça e vejo um camelo me olhando. Eu olhei pra cara dele, ele olhou pra minha, tivemos um momento de entendimento, ambos pensamos:
 - Somos diferentes, mas podemos  nos respeitar! - e também acho que ambos nos achamos recíprocamente simpáticos... Ele ficou me olhando enquanto eu subia a calça e fechava o zíper, deu até uma piscada com seus olhos cheios de cílios (camelos tem duas fileiras de cílios para proteção nas tempestades de areias) e continuou mascando seu chiclete de ervas. Eu também pisquei pra ele, pensando:
- Sou sua amiga... seja meu amigo também! -  Então, eu me despedi dele e voltei para o meu lugar no piquenique. Olhei pra trás, ele continuava parado, me olhando. Cruzar com uma cáfila é estranho. Fazer pipi com um camelo olhando, é surreal! Mas foi lindo!
     Os muçulmanos rezam cinco vezes por dia. E antes da reza, eles cantam chamando os fiéis para a oração. Por isso, as mesquitas tem torres bem altas. Eles sobem no alto das torres e cantam. As montanhas todas refletem o som, fazendo ecos, então essas cantorias são ouvidas a quilômetros de distância. Muitas vezes ouvimos esses cantos tristes, quando não havia nenhum povoado à vista. É impressionante. Ouvi dizer que as torres das mesquitas são assim altas para que o canto dos muçulmanos seja ouvido a longas distâncias.
     Esta era a região mais povoada dos templos bíblicos. Devia haver muitos viajantes nesta estrada. Todos com aquelas vestes longas, cabeça coberta, sandálias rústicas nos pés. Eu vou caminhando e pensando em tudo isso. Minha cabeça voa!
     Fez um tempo ótimo. Céu muito azul, nuvens de carneirinhos, Temperatura entre os doze e os vinte graus, ótimo para caminhar. Dias lindíssimos.

      Nidal, enquanto caminha, vai contando histórias sobre a ocupação dos "israelis". Fala que os palestinos querem conviver pacificamente com todas as religiões. Afinal, são todos árabes, e que cada religião é um caminho para se chegar a Deus, que é um só e protege igualmente judeus, cristãos e muçulmanos. A guerra é coisa de políticos. Diz também que os palestinos fazem distinção entre "israelis" (cidadãos de Israel) e judeus (fiéis da religião judaica). Os palestinos respeitam os judeus e dizem que até existem judeus vivendo pacificamente na Palestina, mas dizem também que os "israelis" não querem paz, não querem conviver com os palestinos, que os expulsam  de suas terras e os toleram somente na condição de refugiados.

     Em todos os contatos, os palestinos pedem ajuda. Dizem que os cidadãos elegem os governantes e os governantes podem votar favoravelmente a eles, na ONU. Um deles agradeceu ao povo brasileiro, pelo apoio à causa palestina. Mais uma vez, fiquei feliz por ter nascido num país cujo povo não tem ódio coletivo e atávico por outros povos, culturas, ou raças. A intolerância, quando existe, é pontual.
      Me lembrei do camelo. Apesar das diferenças, podemos conviver!

      Voce já pode dizer Eu li na tela da
                                                           Eulina

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nazare - Jinin

                                              


                                                                  NAZARÉ - JININ

                                                                                                                                23/12/12

     Começamos a conhecer  Nazaré. Um guia local nos levou à Igreja Ortodoxa da Anunciação, onde há uma pintura linda da anunciação: o anjo Gabriel  e Maria, com o ventre iluminado pela imagem do Menino Jesus. Depois, fomos à Basílica Católica de Maria. Enorme, com quadros representando a virgem, vindos de todo o mundo. Lá está Nossa Senhora Aparecida.

     Em seguida, fomos até Cafarnaum,  o local onde foi a casa de São Pedro, o local onde Cristo começou a pregar, o local onde foi o sermão da montanha, o rio Jordão... Em todos os locais, (exceto o sermão da montanha), há templos enormes, com histórias igualmente enormes, sobre ocupações pelos romanos, pelos turcos, sobre as cruzadas, várias ruínas com vários estilos arquitetônicos... e vários grupos de turistas do mundo todo.

. Fica difícil a gente se concentrar e imaginar as cenas bíblicas no meio de todo esse tumulto e com o guia contando histórias em ritmo acelerado, porque há sempre outro grupo, com outro guia atrás, esperando para chegar em frente ao local sagrado e desandar a contar a sua história.
     É tanta gente, tanta coisa pra se ver, tanta história pra se ouvir, que não dá tempo de sentir frustração por não poder rezar em paz. Não chegou a ser uma decepção, mas... não foi a emoção que eu esperava. Não sei explicar o que senti. Mas pressenti que iria ser assim em todos os locais sagrados.

     Afinal, estou aqui. Não era isso o que queria? Não me emocionei, não chorei, não exultei... não sei o que dizer. Com certeza, estou em paz. Engraçado, parece que sinto alívio. Quase como  beber água quando se tem sede.  E por falar em água, fomos a uma fonte, que fica ao lado de um buraco de mina, cuja história o guia se esforçou para contar e eu me esforcei para ouvir, em vão.

                                                             ***

    Depois, o check point. Passaporte na mão, fotos proibidas, todos com medo, olhos arregalados, italianos em silêncio.  Cercas, portões giratórios, fomos passando um por um, em fila indiana, carregando nossas bagagens. Olhamos para dentro dos guichês, nos escritórios. Nada.... ninguém... ,  nenhuma pergunta,,  nenhum carimbo...que coisa!  Meno male, como dizem os italianos.

     Chegamos do outro lado. Estamos na Palestina! West Bank, como chamam os palestinos, que quer dizer margem oeste do rio Jordão.

    O nosso sorridente guia palestino está a espera e trouxe uma van e um taxi. Acomodamos a bagagem nos carros e fomos para Jinin.  A paisagem muda. No lugar dos campos cultivados dos israelenses, vemos o deserto e as montanhas. No lugar da estrada asfaltada e dos micro ônibus, uma estrada de terra esburacada, as vans e os taxis velhos. Nem parece que estamos na mesma região. E, a maior diferença: no lugar da cara séria e profissional do guia israelense, encontramos o enorme sorriso do nosso guia palestino. Chama-se Nidal e vamos atravessar o deserto com ele.

                                                           ***

     Jinin, a cidade onde estamos agora, se parece com uma novela da Gloria Peres. Tudo acontece na rua principal. Lojas, camelôs, gente, muita gente,  muitas crianças, carros, sons cheiros cores, gatos (muitos), cães (poucos), uma enorme confusão.  Homens com o pano estilo Arafat na cabeça e mulheres de roupas compridas e cabeça coberta. Pobre, bem pobre. Andamos pelas ruas por entre os carros e as mercadorias dos camelôs, cuidando para não sermos atropelados no meio daquela balburdia.

 Almoçamos num restaurante incrível, onde tínhamos uma sala reservada no alto de várias escadas, cada uma de uma largura e cada uma saindo de um lugar diferente. A nossa sala é toda fechada, sem janelas, com pinturas de paisagens nas paredes verdes e vermelhas. Nidal almoça conosco.  Realmente, um assombro! E o maior assombro é que a comida é excelente! Comi muito!
    Depois do lauto almoço, andamos mais por entre ruas e vielas, estilo Paraisópolis em Sampa e Morro do Alemão, no Rio.

     Caminhamos até um teatro: o Freedom Theater. Esse teatro funciona como um centro de resistência à ocupação israelita. O diretor nos mostrou um filme contando a história do teatro e mostrando como lutam pela preservação da cultura palestina, no meio das bombas que destroem partes da cidade, que são  reconstruídas em seguida. Há, numa das paredes, a foto do Guevara e há nos olhos dos palestinos um brilho que é encontrado nos olhos dos povos oprimidos que sonham com liberdade e justiça. Conversamos um pouco com os atores. Eu comprei uma camiseta.

     O povo parece feliz, apesar de tudo. As crianças nos acompanham, pedem para tirar fotos, riem muito. Fomos até uma praça, onde uma ambulância foi explodida por uma bomba e os artistas da cidade construíram um cavalo com as peças danificadas da ambulância. Eles consideram o cavalo como o símbolo da liberdade. A feiura do local e do monumento, contrasta com a beleza e a alegria das crianças.

    Como tivemos de passar por um check point, eu segui as recomendações de amigos no Brasil e vesti a camisa verde e amarela estilo seleção brasileira. Não havia ninguém no check point, mas na praça, as crianças olhavam para mim e falavam Cacá! Ronaldo! e eu respondia Romário! Cafu! Foi joia!

     Depois de andarmos bastante, por entre ruas e vielas igualmente sujas e tumultuadas, porém interessantíssimas, entramos nos carros novamente e começamos a subir ladeiras. Realmente, o planejamento urbano é zero. Ladeiras estreitíssimas e se vem um carro no sentido contrário, temos que achar um lugar mais largo parar por um momento, para deixar o outro carro passar. Vielas escuras, casas amontoadas, as favelas do Brasil são iguais.

     Eu, como não gosto de saber o roteiro, faço o que me pedem e tudo é uma surpresa. Sentada no carro, eu espero pra ver aonde estou indo. Chegamos numa rua, onde há um muro enorme, toma o quarteirão inteiro. Contornamos o muro e entramos num portão. Subimos por um caminho asfaltado e chegamos numa construção imensa, luxuosa, é o hotel! Que surpresa! Depois daquele trajeto tortuoso tão escuro, tão pobre, este hotel. Grande, imponente, espaçoso... um luxo! Como será que se sentem os palestinos que trabalham aqui e moram naquelas casas, naquelas ruas?

     Meu quarto, que divido com Andrea é grande e bonito. Tem duas camas enormes, banheiro com água quente, sabonetinhos e shampuzinhos. A janela grande e envidraçada mostra a cidade abaixo e os arredores do hotel. Dentro dos muros, tem até um parque de diversões com uma roda gigante! 

     O jantar foi servido numa mesa grande, lindamente arrumada e com flores no centro. Ficamos todos admirados. Tanto luxo e riqueza, no meio de tanta pobreza. Nidal não entrou no hotel. Será que algum palestino se hospeda aqui?
                                                                   Você já pode dizer eu li na tela da
                                                                                                                         Eulina
   

                                                                     

domingo, 20 de janeiro de 2013

Nazaré

                                        
                                                             

                                                           CHEGADA  EM NAZARÉ


                                                                                                                               22/12/12
     Depois de aproximadamente duas horas de viagem por uma auto estrada, durante as quais eu vi, além de palmeiras e oliveiras, várias cidades, todas igualmente feias, com o mesmo tipo de predinhos, eu cochilei. Acordei com o trânsito encalacrado, barulhento, cheio de buzinas, num anda e para parecido a Av. Marginal do Pinheiros.

 Olho em volta, estamos subindo uma ladeira enorme, cheia de curvas, numa rua estreita, com lojas de ambos os lados, e lojas  com mercadorias penduradas no teto, expostas na calçada, lixo acumulado  nos cantos, muita gente, tudo muito parecido com bairros da periferia de Sampa.
    Trânsito infernal. São aproximadamente quatro e meia da tarde, já está escurecendo. O ônibus sobe penosamente, desviando de buracos, de gente, de lixo, de carros na contra mão... até que chega no alto da ladeira, onde há um portão. O ônibus para. Chegamos. Só agora que me toquei. Estou em Nazaré!

     O portão dá para um pátio, com chão de pedras, e uma árvore enorme no centro. O pátio fica no meio de uma construção antiga, que parece um convento. É o hotel. Enorme, pé direito bem alto, paredes com pinturas, estátuas pelos cantos. Arvore de Natal e guirlandas. Recebo a chave do meu quarto e descubro que tenho uma companheira de quarto. Uma alemã, que vai caminhar conosco. Simpática, fala um inglês tão pobre quanto o meu, mas suficiente para nos comunicarmos. Seu nome é Andrea. ela conta que tinha um grupo que desistiu por causa da guerra, então ela veio sozinha. Que nem eu! Ficamos amigas instantaneamente
.
    Depois do banho e de arrumar minhas coisas, fomos jantar. Na mesa, comecei a conhecer os italianos. Dois casais:  Silverio e Gloria, Gianfranco e Donata e os desacompanhados, Antonia, Francesca, Chiara, Katia e Giacomo. Todos falantes. Muito falantes. Silverio é o lider. Eu gostaria de entender mais italiano, para participar da conversa. Mas alguns deles falam inglês, e me traduzem. Eu gostei deles. Espero que tenham gostado de mim também.

    Depois do jantar, Andrea  foi me mostrar o hotel. Ela chegou ontem, já está mais familiarizada com o lugar. Disse que parte dessa construção funciona como escola e me levou até uma sala de aula. Os livros escritos naquelas letras, todos de trás pra diante... é esquisito. Num canto, havia cartazes na parede, com pinturas sobre Maria, José e o menino Jesus e em baixo, em cima de  uma mesinha estava um livrinho com uma foto de um jogador de futebol, com a camisa  da Seleção Brasileira na capa! Folheei o livro. É um catecismo, tem figuras que contam a história de Jesus. Afinal, estamos na terra dele... mas por que a foto do jogador na capa? Ai, que vontade de entender aquelas letras! A Andrea também achou estranho, também não entendeu nada. Quando ela se vira para outro lado, eu cometo um pecado. Roubo o livro, escondo em baixo da minha jaqueta. Está aqui do meu lado agora. Continua ininteligível. Acho que nunca vou conseguir decifrar esse mistério...

     Voltamos para o quarto. Tem um terraço no quarto! Temos uma vista panorâmica de Nazaré by night. É bonita e barulhenta. Ouvimos uns tambores, que Andrea ouviu ontem e também não soube explicar, ouvimos as buzinas do trânsito encalacrado, sinos tocando nas igrejas, corais cantando, e os cânticos dos muçulmanos chamando para as orações da noite. Será que é assim todos os dias ou só na época do Natal?
     Antes de dormir, converso com Andrea. Descubro que ela tem um ótimo senso de humor. Damos boas risadas.
     Durmo feliz.
                                                            Voce já pode dizer Eu li na tela da
                                                                                                                     Eulina
                                               

sábado, 19 de janeiro de 2013

Tel Aviv

                                                                     

                                                                  TEL AVIV


     Aterrizamos. Agora é o momento mais difícil: a imigração e o carimbo no passaporte. Que Jesus, Maomé, Allah e Moisés me protejam!

     Várias filas, várias perguntas, tirei os sapatos, passaram o aparelho detetor de metais mais uma vez, abriram minha bolsa  mais uma vez, e por último, uma soldada, num guichê, com meu passaporte na mão, perguntou qual o meu nome completo. Eu respondi sem pestanejar Maria Eulina Martins de Ulhôa Cintra. Foi o suficiente. Ela carimbou. A mocinha do meu lado não teve a mesma sorte. A soldada chamou alguém e ela ficou lá. Eu suspirei aliviada e fui embora com pena da mocinha.

     Aparentemente, é tudo calmo. Nem parece que existe uma guerra. O motorista do taxi que me levou para o hotel disse que as histórias sobre as bombas são inventadas para vender jornais e dar audiência na TV. Disse também que a metade dos moradores de Tel Aviv é palestina, infelizmente. Fiquei pensando em tudo o que "infelizmente" poderia significar... O trânsito flui bem. Musica italiana, no taxi. Domenico Modugno.

     O hotel é simples e simpático. Quarto pequeno, mas arejado e confortável. Camila Pitanga na televisão falando português! Novela brasileira, com legenda naquelas letras. É esquisito. Arrumo minhas coisas, tomo um banho e saio. Está chovendo, mas não está frio.

     Ando um pouco pela rua. O que vi, com exceção da praia, com calçadão e do mar com enormes ondas esverdeadas e alguns surfistas, é feio. Arquitetura com criatividade zero. Todos os predinhos iguais, Parece Cohab. Carros modestos nas ruas. Não há luxo nem ostentação. Acho que os judeus ricos não moram em Tel Aviv.

     Se ignorarmos a língua e as letras esquisitas, esta é uma cidade sem surpresas. Aparentemente, tudo normal, tudo igual a qualquer cidade ocidental. Jantei num pequeno restaurante e comi um espetinho de frango com salada de alface. Estava ótimo.

     Enfim, vou dormir numa cama!. Depois de duas noites em aeroportos e um dia e meio voando, uma cama! Que maravilha!
    Ah! O mundo não acabou.
                                                            ***
                                                                                                                          22/12/12
      Agora, é meio dia e eu tenho que ficar aqui, na entrada do hotel, esperando o ônibus dos italianos.
      Caminhei pelas redondezas do hotel, hoje pela manhã. Nada de especial. Estava chovendo. Agora já saiu o sol. Calçadas remendadas, poças d'água. Numa esquina havia pedras colocadas por alguém para a gente passar por cima da poça d'agua. Predinhos, predinhos, feinhos feinhos. Mal conservados, pintura descascando. Algumas ruínas pichadas e transformadas em estacionamento. Na avenida da praia, ficam as embaixadas e os hotéis Sheraton, Hilton e outros, com arquitetura estrondosa, poderiam estar em Miami.  Um contraste com os predinhos.    
  
    Na entrada de um prédio enorme, existem duas estátuas iguais: um homem nu segurando um objeto nas mãos, parece um livro... só que eles estão de ponta cabeça! Eu queria perguntar o que significavam, mas não sei falar de ponta cabeça em inglês... fiquei na curiosidade.
     O pouco que vi de Tel Aviv foi sem graça.

                                                                   ***
     À uma hora o micro ônibus passou para me pegar. Viemos para o aeroporto esperar os italianos. Novamente, aeroporto. Desta vez o de Tel Aviv. Espero que o voo dos italianos não atrase, para que eu não tenha que ficar horas aqui.
     O voo não atrasou. Eles chegaram. São todos simpáticos. Caras boas. Falantes. Bem humorados. A   primeira impressão foi ótima. Que bom!
     Todos a bordo do micro ônibus, vamos para Nazaré, onde se iniciarão nossas aventuras.

                                                             ***
     Voce já pode dizer Eu li na tela da
                                                             Eulina

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Dias 20 e 21 de dezembro




                                             VÉSPERA DO FIM DO MUNDO


      Na véspera do fim do mundo, inicia o meu voo rumo à Tel Aviv. Jantei ontem no clube, com o ex-marido, as filhas, o genro e o neto. Depois do jantar, Susi (a filha caçula),  me trouxe ao aeroporto. Cheguei em Cumbica, por volta de meia noite. O voo está marcado para as cinco horas do dia seguinte, e eu tinha que me apresentar para o check in às três. Cheguei com 3 horas de antecedência.
     Parece que em Buenos Aires o mundo já começou a acabar. Está acontecendo uma super tempestade e todos os voos que partiam de lá, atrasaram. Eu ia sair às cinco horas. Já são seis e meia e... nada. A Turkish Airlines distribuiu um lanchinho mequetrefe: um suco com gosto e cheiro de burro quando foge, um saquinho de batatas fritas, bem pequenininho e um bolinho de chocolate que eu não comi. Entrei na fila novamente.
     - Moça, eu ainda estou com fome, posso ganhar mais um saquinho de batatas?
     Chamaram para o embarque! Imediatamente, se forma uma fila enorme. Eu continuo sentada comendo minhas batatas. O auto falante anuncia:
    - Preferencia aos idosos, crianças e portadores de necessidades especiais!
     Que bom ser velhinha!
                                                                 ***
     Chego em Istambul, com quatro horas de atraso. Voo terrível, apertado, incômodo, comprido demais. Pelo horário do Brasil, saí de Sampa às nove da manhã do dia vinte e cheguei aqui às nove da noite. Doze horas de voo. No horário daqui, agora já é uma hora da manha, do dia vinte e um. Pelo menos aqui, o mundo ainda não acabou. No Brasil, ainda é ontem. Que coisa!
     Pra mim, o que acabou foi a reserva no hotel da Turkish Air Lines, que segundo o meu agente de viagem estava incluída no preço da passagem. A reserva é válida por duas horas. O voo atrasou quatro.
     Então, recapitulando, eu cheguei em Cumbica com três horas de adiantamento para o check in, mais duas horas entre o check in e o embarque, são cinco, mais quatro horas de atraso entre o embarque e o voo, são nove. Mais doze horas de voo, são vinte e uma horas em trânsito. Considerando que o voo para Tel Aviv parte amanhã às oito e meia e ainda é uma hora da manhã, tenho ainda sete horas e meia de aeroporto! Haja!
      Então, o que me resta é conhecer o aeroporto de Istambul. Olho pelas enormes paredes envidraçadas. Está nevando em Istambul! Como toda brasileira, fascinada pela neve, fico morrendo de vontade de sair e ver de perto, sentir a neve caindo! Procuro a saída. Ando, ando, subo e desço escadas rolantes e acho um fumódromo, que tem uma janela aberta. Chego perto. Parou de nevar. O que dá pra ver dessa janela é um pedaço de pista, com veículos manobrando. A neve não cai mais. Ando, ando novamente, para dentro do aeroporto, subo e desço escadas. Chego no free shopping. Grande, bonito com muitas lojas enfeitadas para o Natal. Existem cristãos na Turquia!
     Este aeroporto é enorme, bonito e tem gente dormindo pelo chão, em todos os ambientes. Daqui a pouco vai ter mais uma pessoa dormindo no chão: eu. Agora vou comer um lanche, descobrir em qual portão eu embarco e me deitar no chão, perto desse portão.
     Agora, já são três e meia, no horário daqui. Eu comi um sanduiche, tomei uma coca. Todos falam inglês e aceitam dólares, só que o troco é em dinheiro turco. Não sei o nome do dinheiro deles. Na moeda está escrito está escrito kurus, com uma esquisitíssima  cedilha no s. A outra moeda só tem aquelas letras.
    Como não tenho com quem conversar, escrevo tudo o que me acontece. Neste aeroporto, os bancos não tem braços, então dá pra  pegar três bancos e dormir esticadinha. O banco tem um estofamentozinho, é quase confortável.
     Agora acordei e estou fazendo hora novamente.  O mundo ainda não acabou, meu celular está sem rede e eu ainda não sei qual é o meu portão de embarque.

                                                                      ***

     Pronto. Consegui. Vários pedidos de informação, várias filas, vários estresses em frente a painéis, enfim achei o gate e finalmente estou dentro do avião, após responder muitas perguntas, passar pela revista, tirar casaco, tirar sapatos, passar pelo detetor de metais, abrir a bolsa. Afinal o país para onde vou, está em guerra.
     Meu lugar, desta vez é na janela, porém, em cima da asa.  O avião é menor, menos passageiros e um pouco mais de espaço entre as cadeiras. Os passageiros estão entrando e guardando suas coisas. Eu, como sempre, não tenho nada a colocar no compartimento acima. Levo apenas uma bolsa, que vai em baixo do banco dianteiro. Próxima parada: Tel Aviv e seu temido serviço de imigração. Respiro fundo.

     Lá fora nevou, temperatura zero grau. Aqui dentro é quente e abafado. Acabou de entrar uma muçulmana de lenço na cabeça e sentou do meu lado. Ela é morena e fedorenta. Ou não toma banho, ou não lava o monte de roupa que veste, há vários dias. Ainda bem que são só duas horas de voo.
     Orra meu! Não para de entrar gente!
     A minha vizinha, além de fedorenta, tira meleca do nariz e faz bolinhas, Arg!

                                                                ***
     Enfim! O avião se movimenta. Tem neve na pista! Pessoas lá fora, todas encasacadas. E eu aqui, com calor. A tripulação fala turco e inglês. Ambos incompreensíveis.
     Ainda não voou. Já são dez e cinquenta. Uma hora e vinte minutos de atraso! Nesta pista não tem neve, mas tem um avião na frente. O avião da frente acelera e voa. Agora é a nossa vez!  Olho para a outra pista. Já tem dois aviões na fila para decolar. Estamos parados... pronto. Aceleramos! Voamos! Finalmente! A porra da asa atrapalha, mas dá pra ver Istambul, com os telhados brancos de neve. Pronto. Entramos numa nuvem. Não dá pra ver mais nada.  
     Cochilo. Olho pela janela: as nuvens parecem sólidas. Será que a neve, antes de ser neve é nuvem? Em cima, céu azul e sol. Em baixo, nuvens brancas e sólidas.
      Lanchinho. Estico um braço enorme na frente da minha vizinha. Pego a  bandejinha direto com a aeromoça. Não quero que ela encoste a mão na minha bandejinha.
     A caneta cai debaixo do banco. É tudo tão apertado, que é preciso ser contorcionista para conseguir pegar. Vou ver um filme, depois do resgate da caneta. Se conseguir apertar os botões certos, é claro.
     Já estamos descendo em Tel Aviv. O mundo não acabou e daqui é lindo. Vejo o mar Mediterrâneo, verde como o mar de Angra dos Reis. Verde esmeralda. Lindo.
     Céu azul com nuvens brancas e sólidas e mar de esmeralda. Tel Aviv, estou chegando!

                                                         ***
PS: Havia uma previsão, creio que no calendário do povo maia, que dizia que o mundo iria acabar no dia 21 de dezembro de 2012. 

     Agora voce já pode dizer: Eu li na tela da
                                                                     Eulina









 

  

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013



Olá!
 
     Hoje é um ótimo dia para começar a escrever. Está chovendo muito e não dá vontade de sair de casa.
Vamos ver se eu consigo mandar mensagens para todos, sem me atrapalhar com todos os clicks que o meu neto me ensinou.
     Como sabem, voltei recentemente da Palestina. Então vou contar mais coisas sobre a viagem. Eu já contei algumas coisas em  "emails", mas eu levei um caderno onde fui anotando tudo o que  me pareceu importante.

                                                           PRELIMINARES

     Recebi  "email" de um amigo, com o roteiro da caminhada de Maria e José, quando saíram de Nazaré e foram para Belém, em virtude das leis romanas sobre o recenseamento. Essa caminhada se deu quando Maria estava no nono mês de gravidez e terminou em Belém, em num dia em que se convencionou ser 25 de dezembro do ano um.

    Para mim, que sou peregrina, cristã e adoro caminhar, foi paixão à primeira vista. Mas havia um "probleminha": a guerra. Convidei pessoas. Todos tinham medo da guerra. Convidei uma jornalista amiga e fiquei entusiasmada, poque ela adorou a idéia e topou ir e fazer uma longa matéria sobre o assunto. Eu fiquei feliz. Porém, minha amiga ficou grávida e mudou seus planos. Eu até pensei em argumentar que Maria também estava grávida, mas... não tive coragem. E acho que na época de Maria e José, não havia guerra, apesar de Herodes gostar de matar criancinhas.

     Depois, num almoço da Associação dos Amigos do Caminho de Santiago, à qual pertenço, eu convidei outros peregrinos. Qual não foi minha surpresa, quando vários se interessaram. Eu sempre informei sobre a guerra, então achei que havia vários outros destemidos, feito eu. Fizemos algumas reuniões para discutir o assunto e planejar a viagem. Compareciam muitas pessoas.. Eu ficava animada, mas um pouco assustada, porque tive a impressão de que todos achavam que eu era a líder e que eu deveria resolver tudo.

     Na realidade, eu não gosto de resolver nada, quando viajo. Não gosto nem de conhecer muita coisa sobre o local. Gosto de ir com a cabeça "em branco", para preencher primeiro com as minhas impressões e só depois de ter visto tudo com meus próprios olhos, ler, estudar e me informar, para formar uma opinião.

     Então, a participação nas reuniões para troca de informações me assustava um pouco. Até que resolveram chamar alguém que já tinha feito esse caminho, para dar mais informações. E chamaram um casal de judeus. Eles trouxeram um amigo que tinha uma empresa de turismo especializada em Terra Santa. O amigo apresentou outro roteiro, que não tinha caminhadas na Palestina. Só em Israel. As pessoas todas ficaram deslumbradas com as paisagens e resolveram aderir. Eu fiquei com o "pé atrás". Acabei por desistir do grupo. Não sei se ainda se reúnem nem se ainda se interessam pela visita à Terra Santa.

     Eu permaneci fiel à ideia inicial. A minha primeira intenção, seria sair de Nazaré em meados de dezembro para chegar em Belém no dia 24. Porém, segundo as informações do Siraj Center, que programa essa caminhada, o guia não sai para menos de 5 pessoas. Eu não tinha arranjado mais 4 pessoas e, à essas alturas, já em novembro, a situação entre Israel e a Palestina estava se agravando, com bombas e tiroteios, o que me deixava sem jeito de convidar mais alguém. Eu fiquei muito triste. Então, mandei um "email" para o Siraj Center, perguntando se havia algum grupo programado para dezembro de 2012. Eles responderam que havia um grupo de italianos. Eu entrei em contato com os italianos e eles disseram:
 - You are welcome!   Eu exultei!

      Já era fim de novembro. Comecei a me preparar. Comprar passagem, arrumar coisas. Enfim, a partida foi acertada para o dia 21 de dezembro, o dia do "fim do mundo", segundo uma profecia corrente na época. Fizeram até um filme catastrófico sobre isso.  Eu brinquei com todos dizendo:
- O mundo vai estar acabando, mas eu estarei no avião, vou entrar em órbita e viver para sempre...

     Mas, na realidade, eu também estava com medo. Nunca foi para lugares em guerra. Sou brasileira, não tenho essa experiência de ódio coletivo a um povo ou a um país. Coloquei, na minha bagagem, meus remédios para diabetes, com reserva de um mês. Levei os telefones da embaixada do Brasil, dei para as filhas uma cópia do roteiro e avisei que se houvesse notícia de algum ato de guerra nos locais e datas em que eu estaria, elas deveriam entrar em contato com um amigo advogado, que gentilmente se ofereceu para "resgatar-me", se necessário.

     E foi assim. Parou de chover. Vou tratar de coisas na rua. Amanhã eu continuo.
     E vocês que lerem, podem dizer: Eu li na tela da
                                                                                 Eulina

       



     

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Segundo teste

Olá!  Esta é a primeira vez que eu escrevo em um blog! No meu blog! Voces vão ler na tela e depois dizer: Eu li na tela!

Inauguração do blog "Eu li na tela"

Caros amigos,
estamos inaugurando o blog com o título acima criado por mim e por meu neto, Giggio.
Convido todos a visitarem, com frequência, o meu blog.